Homem com H
Ah, Ney Matogrosso… tu não és apenas homem com H — és trovão em carne viva, sopro de vendaval em noite abafada! Em plena escuridão dos porões da ditadura, lá vinha você, plumado como ave rara, desafiando o sagrado e o profano, cuspindo flores de escárnio no altar da hipocrisia.
De cara pintada, peito nu e voz de navalha embebida em mel, estremeceste o chão da moral burguesa. Não foste tempestade de verão — foste furacão tropical em plena Avenida Atlântica! Sarcástico, provocador, com o rebolado que deixaria o próprio Jagger encabulado, você não dançava: invocava terremotos.
Surgiste como raio em céu limpo. Psicodélico? Sim. Indecente? Só pra quem teme a liberdade. Insuportável? Apenas para os que preferem as grades douradas ao vôo da alma. Até os mascarados do Kiss, veja só, beberam do teu veneno libertário.
Enquanto uns pegavam em armas, você empunhava a arte — e com ela ferias com mais precisão. Cada gesto teu era navalha embalada em pluma. Cada canção, um tapa de luva de pelica no rosto da caretice nacional.
Sim, Ney, você é cabra macho no sentido mais sublime da ousadia. Um gladiador de paetês, um revolucionário de purpurina, um insurgente do belo.
Obrigado, Ney, por ser esse clarão que insiste em não se apagar. Enquanto ecoar tua voz e brilhar teu olhar felino, o politicamente correto não vai dormir em paz.
Ave, Ney!