A INFANCIA DE SERGINHO
Estava se tornando um hábito na vida do tenente Sérgio Luiz aquela paradinha diária em frente ao hipódromo da Gávea. Pois ali ele nao se cansava de admirar os belos cavalos. Eram animais das mais diversas e ricas raças, todos eles de alto porte, participantes sempre de varias competições.
Esse amor do tenente pelos equinos, tinha muito a ver com sua infância, nas coxilhas do sul do Rio Grande.
Ainda em tenra idade, por volta dos quatro anos, Serginho foi morar com a vó Chica. Cozinheira de mao
cheia, trabalhava na cozinha da fazenda dos Tavares, interior de Dom Pedrito.
A cozinha enorme ficava na parte externa da casa grande e era usada para o preparo das refeições dos empregados, todos eles peoes de estancia. Era ali, na vasta cozinha, que a vó Chica comandava e era respeitada. Era ali, pilotando o grande fogão de campanha, que ela
reinava, fazendo a alimentação de todos aqueles homens rudes e famintos, aos quais era proibida a entrada na cozinha fora do horário das refeições.
O pequeno Serginho sempre acompanhava sua vó, que deixava bem claro não ser o menino empregado de ninguém. Ela não gostava que o neto se misturasse aos empregados e de forma muito autoritária proibia que Serginho andasse a cavalo, nem que se aproximasse desses animais, temendo que o garoto pegasse gosto pelas lidas do campo. Dizia sempre que Serginho iria vencer na vida, tendo nascido para ser alguém.
Vó Chica, que de vó só tinha o neto, era uma morena robusta, que com a graciosidade dos seus trinta e oito anos impunha admiração e respeito por onde passava, sendo obedecida por todos, por Serginho inclusive.
Dessa forma, o menino foi crescendo num ambiente de fazenda, rodeado pelos campos e pelos animais, mas podendo admirar os cavalos apenas de longe.
Na fazenda dos Tavares eram criadas várias raças, se destacando o Alazão e o Malacara, porém
a preferência do garoto era pelo Tordilho, talvez pela beleza de seu pelo..
O tempo foi passando, até que apareceu nos arredores da fazenda o mulato Florêncio, rapaz forte de uns vinte e poucos anos, que montado num pequeno cavalo, um petiço, trazia semanalmente
encomendas para a cozinha da vó Chica.
Nessas ocasiões, o multado adentrava a cozinha e por lá ficava, sobrando tempo para Serginho se aproximar do petiço e admirar toda a belezura do cavalinho.
As vindas do entregador a fazenda passaram a ser mais frequentes, até o dia em que Florêncio demorou-se um pouco a mais na cozinha, fechada e silenciosa, possibilitando ao menino ter o atrevimento de subir no pequeno cavalo. Nervoso, pela sua audácia, Sérginho inicia, aos oitos anos de idade, sozinho e escondido, os primeiros galopes na sela do petiço.
A partir de então o pequeno aguardava a chegada do mulato e o seu sumiço na interior da cozinha grande, para entao fazer suas andanças a cavalo pelos arredores da fazenda.
Serginho nunca soube se a vó Chica descobriu suas façanhas no lombo no pequeno petiço.
Mas ele, já homen feito, descobriu o que o mulato Florêncio tanto fazia na cozinha da casa da fazenda.