E ela, joga pólo-aquático?

“E ela... joga pólo-aquático?”

Ele tem um karma inadiável todas as noites, de segunda a sexta. São duas horas em que se entrega de corpo e alma, molhados.

Ele joga pólo-aquático.

Não obstante, almoça ou não no sábado, para estar com os amigos-rivais ao meio-dia em ponto. Sol, cerveja e sem hora para acabar.

Ele joga pólo-aquático.

Vez por outra chega atrasado em seus compromissos mais profundos, como o aniversário da mãe ou a missa do avô que passou.

Ele joga pólo-aquático.

Se olharmos cotidianamente suas costas, arranhões são facilmente encontráveis. E grandes vergões laterais, também.

Ele joga pólo-aquático.

Na fila do cinema chega meio esbaforido, cabelo igual a um ninho de andorinhas, os olhos vermelhos – e ele não fuma- e sorrisinho besta os lábios.

Ele joga pólo-aquático.

Seu vocabulário inclui termos como: a inglesa, a húngara, a espanhola, a emendada. E não são mulheres. Os dois, os quatro e os sete metros. E não são espaços. Além de figuras míticas tais como o pivô, o centro, o bóia, a ala, o ponta canhoto, o marcador de centro, o goleiro filho-da-puta. E não são nem seres humanos.

Ele joga pólo-aquático.

Quem será o tão falado homem-a-mais que tanto é céu como inferno? Ou a alternada, o passe, o chute, a rodada? Por que a perna é tão importante?

Ele joga pólo-aquático.

Quando viaja, dá notícias apenas dos resultados e de que apanhou bastante. Mas volta feliz e detonado. Não lembra que dormiu sempre após as três, para jogar no dia seguinte.

Ele joga pólo-aquático.

Ao passear nas ruas de cidades estranhas tais como São Jorge, lá na Chapada, um ou mais sujeitos grandes, fortes e mal-encarados o saúdam com termos: ô viadão, vou fazer de você uma fêmea! E ele ainda sorri.

Ele joga pólo-aquático.

Não é campeão, muito menos sai na mídia e se acha o máximo.

Ele joga pólo-aquático.

Porém um belo dia desses, no seu aniversário, sua companheira não apareceu. Sumiu por três dias. Um fim-de-semana inteiro, que começou na sexta. Aí ela chegou com uma carinha lavada, unhadas nas costas até o rabo. Olhos injetados de sangue, mas alegres e brilhantes. A tradicional escova no cabelo virou vassoura, o piercing umbilical amassado a dentadas. Não falou e nem disse palavra. Só que havia caído e virado no centro. E uns caras do outro lado da rua gritaram, e aí? Tudo bem, fêmea-mulher?

Bem, meu caro amigo. Ou ela joga pólo-aquático ou alguém do outro time apresentou-a às delícias do mais nobre esporte!!!!

JB Alencastro

JB Alencastro
Enviado por JB Alencastro em 24/01/2008
Código do texto: T831667
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