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Tenho observado um novo tempo surgir diante de mim. Os jovens seguem trilhas próprias, incentivados a ouvir o coração e a escolher o que faz sentido — mesmo que signifique viver com menos. O importante é fazer o que se ama, ainda que o amor não pague todas as contas. Mas, junto dessa liberdade, surgem pressões constantes, ainda que sutis. Sera que sao sutis?
Antes, seguíamos a cartilha: estudar, trabalhar, casar. Hoje, tudo chega pelas telas. As redes moldam desejos. A simples e  antiga busca por estabilidade virou ansiedade: aquela de ser extraordinário. Registrar tudo. Mostrar tudo. Ser tudo. Nada é pouco!


Com a tecnologia avançando, sobra cada vez menos espaço para a criatividade — e até para os sentimentos. Tudo é vivido para ser mostrado, não sentido. Como se vivêssemos para o futuro, e não no presente.
Ao fotografar algo, deixamos de olhar com os próprios olhos; estamos pensando na pose perfeita, no sorriso ensaiado, na paisagem para postar. Onde foi parar o encanto da espontaneidade?

Sempre adorei fotografar. As lembranças vinham pelas mãos, ao tocar os álbuns. Guardo fotos que meus amigos nem lembram e se surpreendem. Aquelas fotos 3x4 trocadas entre amigas e namorados. Como essas, lembram?

 

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Hoje, tudo está em nuvens digitais — frias e distantes. E, quando perdemos a senha, ficamos perdidos!


Se tudo já está assim, como será quando minha filha tiver minha idade? Teremos carros voadores? Médicos ainda existirão? Ou entraremos em salas automatizadas para sair com diagnósticos instantâneos? E o médico que nos olhava nos olhos com empatia — será só uma lembrança? A enfermeira que vinha com um cafezinho depois do exame de sangue? 
Será que entenderão a dor silenciosa de uma perda, o medo sem nome, o amor sem palavra? O silêncio cheio de saudade, o olhar que sorri por fora e pede colo por dentro?

Hoje as memórias estão no Wi-Fi, enquanto as verdadeiras emoções vivem procurando um sinal.


Deixo aqui um abraço com cheirinho de papel de carta, com as emoções no sinal máximo — antes que minha placa-mãe dê um curto e minhas memórias desapareçam.

 

Foto quando ganhei meu primeiro computador e tive meu primeiro sinal de internet.

(daquele tipo discado - com aquele barulhinho...)

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 22/04/2025
Reeditado em 23/04/2025
Código do texto: T8315803
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