Nosso destino é traçado por uma força superior - a quem acredite no trabalho das Moíras - ou por escolhas que, por vezes, são feitas por pessoas essenciais para nossas vidas. Nem sempre tudo é fruto de nossas escolhas. Às vezes somos prejudicados, outras vezes beneficiados. É a vida.
O interessante é que, ao mesmo tempo em que faço esta reflexão, me questiono sobre o encadeamento de eventos que me trouxeram até aqui, de volta ao meu lar, comunidade Muratubinha, depois de quase 20 anos morando em Manaus. Os questionamentos que agora faço, imagino que meu sobrinho Fabrício — filho da minha irmã Mirian — fará no futuro, quando atingir a maturidade, embora não se saiba exatamente qual a idade da maturidade ou das reflexões sobre a vida.
É uma experiência bem peculiar a chegada de uma criança na família. Nos faz pensar no mundo que temos que construir para que ela tenha o melhor da vida, até mesmo construindo estruturas do impossível, se necessário for. E isso, de certa forma, nos move para que possamos nos tornar melhores pessoas, mais preparadas para, de alguma forma, ajudar nessas transições da vida.
Eu acredito muito na função de um tio: além de um mero parente, alguém legal, alguém que tenha o zelo e se preocupe em inspirar, em ser um adulto modelo — e isso é algo que estou disposto a me tornar.
Enquanto o Fabrício está se adaptando ao novo mundo, também estou no mesmo processo de readaptação à minha terra natal. Afinal, voltar ao Muratubinha depois de 20 anos em Manaus não é uma mudança simples, mas está sendo bem interessante. Antes, eu achava que aqui talvez fosse um ambiente monótono, mas hoje vejo que é um lugar com o seu próprio ritmo, as suas peculiaridades. E eu tinha saudade de olhar para o céu cheio de estrelas durante a noite e, pela manhã, sentir aquele cheiro de interior — um cheiro talvez tão bom e indescritível, porque exala o cheiro da vida; natureza é vida, toda a sua essência. É um esplendor poder respirar um oxigênio limpo que preenche os pulmões e deixa a vida mais leve, permitindo viver com mais intensidade.
Se é destino ou um mero encadeamento de fatos, eu não sei. Só sei que eu estava preso na realidade de contemplar apenas a imagem do rio — agora posso navegar pelo rio, posso me banhar no rio. Isso não tem preço. E talvez não seja uma crônica somente sobre o meu sobrinho ou sobre mim, mas mais sobre as mudanças que a vida nos proporciona: sobre destino ou consequências, mas também sobre a esperança que a chegada de uma criança derrama em nossas vidas e sobre a responsabilidade que ele me concede, para que eu tenha mais fé na possibilidade de defender um mundo melhor. Como nos lembra Paulo Freire em Pedagogia da Esperança:
“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”