Só me lembro do estrondo, ali ao lado.
Algumas gotas escuras, no interior do barraco.
Tapamento razoável...Eu reformei!
Pouca luz, no interior, e também do lado de fora.
Já anoitecera...Gritos...Um estardalhaço de choros.
Não fui ver...Já imaginava alguma tragédia no ar.
Se o tempo estivesse bom...Tiroteio e morte!
Mas, com aquela chuvarada...Alguém ficou soterrado.
É pura matemática...Se nascerem muitos, o perigo aumenta.
Mas a Igreja não liga...Não quer um Estado Laico.
Deus também chorava incansavelmente.
Só que as suas lágrimas fizeram um barraco desabar.
A pobre menina, não conseguiu sair.
Nem ela e nem a sua boneca. Morreram agarradinhas.
Meu cão arranhou a porta. Deixei-o entrar.
Cão molhado e fedido...Cão amigo!
Os gritos cessaram; a chuva, e as lágrimas, com certeza não.
Uma espécie de silencio apavorador, mas não era o fim.
Outros barracos cederiam às lágrimas de Deus.
Outras mães, posteriormente, também engravidariam em prol da militância religiosa.
Aonde vamos parar?
Encontraram o corpo...Pobre menina...Senti tristeza...Abri a porta, olhei para o céu.
O tempo dava sinais de melhoras. Ou seria a minha esperança aflorada?
Todos dispersaram, e por ali, só os pobres e desatinados familiares. Alguns retornaram para as suas casas para fazer o almoço, outros foram vadiar, outros ainda, as crianças, foram brincar nos escombros de uma outra construção; aquela, que desabou na noite anterior matando outras duas pessoas.
Mas, a vida continua...O tempo melhorou, dias depois, é claro. Em uma noite de luar, justo na noite da missa da pobre menina, mais estrondos...Tiros, um homem caiu; era o pai da pobre criança. Não houve resistência, a dívida era muito mais alta do que todo aquela tristeza.
Olhei de soslaio e entrei. Tomei um gole, e adormeci.
A vida não é assim...Mas, ficou assim!