Quando a vida te joga

Eu sou muito tímida. Tímida e esquisita.

Gosto de ficar em casa e tenho horror a barulho. Só escrevo quando estou em total silêncio à minha volta e quando não estou feliz. Tipo, quando estou melancólica é que consigo escrever, se é que me entendem. Mas isso não vem de hoje, quando eu ainda era uma adolescente lembro que a minha timidez era tanta que eu não conseguia falar em público. Me escondia dos parentes e, só de pensar em apresentar um trabalho para a turma do classe, pronto! Eu tremia a ponto de ficar com febre.

Um dia, tínhamos que apresentar cada um um tema de trabalho e eu escolhi, "A primeira viagem do homem à lua" .

Lá estava eu, com um tema interessante, pelo menos para aquela época, pois hoje é até duvidoso. Mas, enfim... eu me coloquei ali em pé na frente pra contar o tal feito, com direito a quatro cartolinas com recortes do Planeta

Terra, estrelas, nave espacial, astronauta e etc. Tudo tirado de uma revista de ciência que pedi para meu pai comprar.

Transpirei muito, fiquei nervosa, ofegante, parecia que eu teria uma crise de asma e, em certos momentos me perdi na apresentação.

Mas observei que a professora e os alunos apesar do meu medo e nervosismo estavam prestando atenção na minha palestra sobre a Lua.

Tinha momentos que eu pensava: Eu deveria ter escolhido outro tema, sobre roupas, comida, sei lá..e agora estou aqui tendo que falar sobre astronautas. Será que estão me entendendo? E estavam! Depois bateram palmas e a professora foi à frente para complementar o que eu havia dito e que o trabalho havia vindo em uma boa hora, já que era o mês de aniversário do acontecido.

Minha nota foi uma das melhores da classe, mas com treze anos eu ficava preocupada com o meu problema e temia futuramente não conseguir falar em público.

Passado um mês fui aquele Playcenter antigo, com todas as outras crianças da escola. Foi uma enorme excursão e minha estreia naquele parque enorme. Estávamos todos prontos para usar o Tobogã. Eu estava com medo, lógico, mas a ansiedade e alegria era maior e fazíamos tanta festa na fila do brinquedo que eu até esquecia do medo. Mas, quando foi chegando minha vez de descer eu comecei a gelar e tremer. Faltavam algumas crianças para descer antes de mim e, mesmo assim, alguém muito maléfico me empurrou com tudo. Eu não desci o Tobogã. Eu praticamente voei e assim, relataram os outros alunos. Que eles nunca haviam visto alguém voar tanto.

Resultado: Ralei joelhos e cotovelos.

Machuquei um dedo e por pouco não bati meu rosto. Mesmo assim, depois de medicada continuei no parque me divertindo e tive coragem de conhecer os outros brinquedos.

Tem certas coisas na vida e situações que no momento são duras e difíceis mas, acabam por nos ensinar alguma coisa. Não devemos deixar o medo nos paralisar, nos parar e, sim usar toda a dificuldade como degraus de aprimoramento. E assim vou trabalhando meus próprios traumas. Não me tornando incapaz e sim superando desafios. Um por um.

Andreia Caires

Fragmentos de uma borboleta e outras crônicas/ livro

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 10/04/2025
Código do texto: T8306254
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