Não sei se voce acredita!
Não sei se você acredita!
Está aqui, atrás do monitor, veio lá da fazenda, não posso afirmar se está me olhando. Quando retirei o notebook da bolsa ela ou ele saiu junto e ficou ali, veio andando e agora está bem de baixo do monitor já ligado, voltou para a bolsa e está lá, acho a me olhar, talvez esperando alguma atitude minha. Da minha parte, garanto para ela ou ele que nada vou fazer... nem observar, não sou curioso nem medroso, deixa a aranha para lá.
Vejo as suas perninhas fora da sombra do monitor, sorrio, não estou preocupado com aranhas, lá na fazenda, por coincidência, não sei se aviso, desde cedo estou no caminho delas ou elas no meu caminho: uma, nas meias que ia calçar, tiver que dar um piparote e jogá-la, nem tão longe, ficou de lá fazendo marra para mim.
Aí, ao bater a bota de borracha, vejam só, mais uma aranha pulou lá de dentro e ficou a me ameaçar...
Agora à noite esta... continua com as perninhas de fora da sombra que o monitor faz entre ela e a luz do espaço onde estou.
Aranha tem patas? Estou vendo quatro.
Mas quero falar mesmo é de meu vizinho. Ele diz gostar muito de mim, ter muito respeito e consideração pela amizade que eu tenho por ele.
Meu vizinho é um rapaz de sorte, ele tem consciência e está tranquilo com o que o destino reservou para ele. Vai morrer, está desenganado, muito mais cedo do que tarde, aí ele queria retribuir, o que na sua cabeça, ou, sei lá porque, fiz por ele. Só sentia não estar gelada, como ele gostaria e era a marca que a Emerenciana falou que eu gostava, doze latinhas de skol.
Em agradecimento, perguntei se meu vizinho estava tranquilo, se conhecia o processo de morrer, citei exemplos de amigos, de crenças, teorias à respeito do fim da vida e vendo que o meu vizinho, apesar de toda feiura, se sentia confortável com a idéia de morrer, só me restou, e posso confessar, que de bom grado, oferecer para ele uma via de comunicação: meu amigo, caso você chegue lá antes de mim, o que tudo indica, me liga, você tem meu telefone, me passe uma mensagem via WhatsApp... qualquer coisa, me diga como estão as coisas lá...
Meu amigo ainda perguntou, João, pode ser por e-mail...
E a aranha, ainda está lá...