AS ESTRELINHAS NASCEM NO CÉU
Houve um tempo em que tive a certeza de que não veria meus filhos crescerem. Doía pensar assim. Era um medo incontido diante da morte, a coisa era mórbida.
Aliás, meu velho pai, naquela mesma idade, teve o mesmo medo e a mesma sensação de ausência do futuro.
Havia para mim um verso bíblico: “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão.” – Sl 37: 2). Isso me dava esperança quanto aos meus filhos e era tudo o que eu desejava.
Deus me deu muito mais do que eu pedia, ele me deu aquilo que diz o Salmo 128: “... verás a prosperidade de Jerusalém por todos os dias da tua vida, e verás os filhos de teus filhos”.
Mais do que qualquer prosperidade, pude ver os filhos dos meus filhos. A cada neto nascido, era como se uma estrelinha surgisse no céu, brilhante, cheia de vida, benção divina.
Foi assim com a Betina e foi assim com o Benício.
Trabalhava um dia, final da manhã, recebi a visita do meu filho e de minha nora. Eles traziam um pequeno pacote. Envolta em alguma manta, vi uma menininha com um rostinho lindo. Era uma bebezinha bem clarinha e a emoção tomou conta das minhas entranhas, como diria o profeta Isaías.
Uma menina meiga e carinhosa, a delicadeza em pessoa.
- Você vai morar com o vô lá em Campo Grande um ano?
- Vou, mas ainda não é esse ano. Dizia com os olhinhos brilhantes.
Minha filha não estava bem de saúde. Caminhávamos juntos e ela dizia que queria ter um filho.
Eu orava: - Meu Deus, como essa menina vai ter um filho nestas condições?
Nos tempos da pandemia da Covid-19, quando milhares estavam morrendo ao nosso redor; quando, traumatizados, estávamos aprendendo sobre uma doença traiçoeira e misteriosa, Taísa me apresentou o menino.
Todos de máscaras, dificultando as fotografias, os abraços, os beijos, os afagos, a proximidade. Tudo era proibido: estar próximo, sair às ruas e conviver. O outro poderia ser o vetor do vírus que te consumiria até a tua morte.
Crianças nascem para dizer-nos que não há tragédia que impeça o nosso Deus de continuar. Crianças são sinônimos de fé e esperança.
Foi assim que vi, pela primeira vez, o Benício.
Quem sabe se Deus resolvesse abreviar as coisas e nós nascêssemos já meio adultos, independentes. Mas as crianças nascem pequenas, dependentes e só retribuem o amor que sentimos com sua própria existência. Nada mais.
Crianças são assim: estrelinhas que caem em nossos colos, brilhantes, com mensagens de alegria, são bilhetinhos do nosso Pai para nos animar e renovar nossa confiança na existência, naquele que se nomina Eu Sou e que pode nos dar a vida.
Netos são estrelinhas mais brilhantes ainda, mais doces, mas lindas, mais felizes. Ouvi alguém dizer: “os pais educam nossos corpos, mas os avós educam nossas almas”.
Deus me permita viver, ser sóbrio e sábio, para contar aos meus netos histórias para as suas almas, vindas da eternidade e seguindo para a eternidade.