Maria: patrimônio imortal da humanidade
Maria: patrimônio imortal da humanidade
Cardoso I
Se a humanidade precisasse escolher um nome para ser tombado pela Unesco, tenho certeza de que seria Maria. Porque Maria não é só um nome — é uma instituição, um estado de espírito, uma espécie de assinatura invisível que atravessa séculos, continentes e classes sociais.
Maria está em todo lugar. Está na moça que vende café na esquina, na avó que benze os netos antes de dormir, na funcionária que segura o mundo com as duas mãos e um salário apertado. Maria é professora, enfermeira, advogada, dona de casa, camelô, poeta, costureira, rezadeira, artista. Às vezes é doce, às vezes braba. Às vezes reza por você, às vezes te dá uma bronca que vale mais que qualquer oração.
O curioso é que todo mundo conhece uma Maria. Ou várias. E, sem perceber, a gente vive cercado por elas. Tem a Maria que criou cinco filhos sozinha, a que nunca teve filhos, mas cuidou do bairro inteiro. Tem a Maria que canta para espantar a tristeza, a que enfrenta a vida de peito aberto, e a que carrega no nome uma história que começou lá atrás, quando ser mulher era sobreviver ao impossível.
Maria virou nome comum porque nunca quis ser estrela: queria era estar presente. Talvez por isso seja o nome mais registrado nos cartórios, nas cédulas antigas, nas canções, nas orações murmuradas antes de dormir.
Mas não se engane: cada Maria carrega uma revolução pequena e silenciosa. Porque Maria é resistência, é cuidado, é a soma de todas as mulheres que nunca tiveram tempo para serem reconhecidas, mas que, mesmo assim, seguraram o mundo enquanto ele ameaçava desabar.
Quando alguém diz "é só mais uma Maria", eu penso que não. Não é só mais uma. Maria é quase patrimônio imortal da humanidade — e deveria ter placa, estátua, feriado. Porque, no fundo, cada Maria que cruza nosso caminho deixa um pouco de si na gente. E sem elas, o mundo seria infinitamente mais vazio.
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