Mais um dia de trabalho.

Faltavam apenas duas horas para se encerrar o expediente. Seria o último dia de trabalho naquela mórbida repartição, a ansiedade tomava conta de Murilo. Durante vinte e cinco anos dedicava-se exaustivamente ao serviço público, acreditando deveras que contribuiu muito para a sociedade. Mas naquele resto de tempo refletia se realmente o havia feito. Lembrava que raramente se divertira, a não ser as poucas vezes que com companheiros de ofício bebera algumas cervejas. Solteiro, Murilo via que sua rotina trabalho-casa tinha sido a regra durante praticamente toda a sua vida, e que seria perfeito a aposentadoria à esta altura. Sentiria saudades é claro, do chefe – muito gente boa, dos cafezinhos de dona Palmira, das piadas do Sebastião, e claro, de Flavinha. Uma espécie de diabo em forma de Office-girl, uma subordinada que trazia na inocência das suas roupas um mistério erótico que Murilo sempre pensou em desvendar, mas lhe faltara coragem.

No momento em que o já aposentado batia o cartão pela última vez, foi surpreendido pelos amigos que lhe prepararam uma festa de despedida. Após comes e bebes, Flavinha lhe chamou num canto:

- Seu Murilo, vou ser sincera. Sempre tive uma tara pelo senhor.

Chupou-o e pediu que gozasse na cara.

Murilo foi para casa. Pensou, pensou e pensou. No dia seguinte voltou ao trabalho.

Raul Koliev
Enviado por Raul Koliev em 23/01/2008
Reeditado em 23/01/2008
Código do texto: T829746