AS "PROFISSÕES" QUE (não) TIVE...
AS "PROFISSÕES" QUE (não) TIVE...
"Eles passarão... eu "passarinho" !
poeta MÁRIO QUINTANA (RS)
De repente me vejo na situação de entrevistado, logo, um sujeito agora com alguma importância; o que era para ser apenas sobre minha vivência literária adentra no terreno da vida pessoal. Fui pego de surpresa: "quando comecei a trabalhar e que funções já tive" ?! Função e profissão são coisas semelhantes, se confundem, porém função é atividade temporária e profissão existe desde sempre. Ganhar o pão com o suor do rosto eu o fiz desde pequeno, catava copinhos de sorvete Kibon (só havia estes) aos 4 ou 5 anos e "ajudava" minha mãe a vender "pasta rosa" nas feiras-livres do extenso bairro Copacabana, 3 ou 4 delas. Tal pasta dona Apolônia ("Maria", para todos) fazia "cozinhando" barras de sabão vermelho, misturadas a um pouco de areia e soda cáustica, "produto" rudimentar feito para "arear" panelas, deixá-las brilhando.
Enquanto jovem, aos 15, 16 anos, ajudaria o mano mais velho a empreender (?!), fazer sandálias e vestidos de couro, Moda na época, nesse caso função; meu serviço era lustrar o couro, a profissão de sapateiro cabia a ele. Como eu já gostava de escrever, me "escalou" para outra função, sendo ele agora mecânico, chefe de Oficina perto do Morro onde nascemos. Eu relacionava em Nota "fiscal" os serviços feitos e também "lavava" peças velhas para uma "guaribada", uma pintura que as "remoçava". Ficavam "seminovas" e eram revendidas, "que a Vida não é sopa"... aos 6 ou 7 anos (1958 ?) meu pai nos tira do Morro e atravessa 3 Estados, nos levando para Santa Catarina.
Como só aparecia no colégio das freiras -- para quitar as despesas -- a cada ano e meio, a gente "trabalhava" nas mais diversas funções, eu e o mano gêmeo. Ajudava a debulhar espigas de milho, a alimentar os porcos, levar o casal de bois ao pasto, fazer sabão (uma nojeira !), trazer a farinha de milho (beiju) do Moinho e muito mais.
Pouco depois, já no Seminário Menor (em 1965-66) mais funções, também devido aos "esquecimentos" do velho motorista de caminhão, 55 ANOS na boléia de vários deles. Levar as roupas de cama dos 2 dormitórios para a lavanderia, cuidar dos coelhos, das plantações (leiras) e até semear as futuras verduras e legumes. Nas férias escolares, mais trabalhos: cortar lenha na casa da tia Anita, trazer "ciscos" de erva-mate de um moinho próximo e levar marmita do primo que trabalhava num Banco (em Mafra), isso lá em Rio Negro, em troca de moedinhas, "réis". Tive até caderneta de poupança da Caixa (1966-67), que guardo até hoje.
De volta ao Rio, em 1968, tive uma infinidade de "profissões" entre uma ou outra função: a de entregador (por 2 horas) de panfletos de dedetização -- o dono achou que eu tinha jogado fora os papéizinhos, tal a rapidez de execução do encargo, nem fui pago -- e de vendedor de refrigerantes na praia, por 2 dias... também a de vendedor de Seguros, por 3 dias, sem vender nenhum. Ganhei até gravata, de um vizinho ! Entre as profissões, quase tudo: garçom de pensão em Laranjeiras, cuidador de cão, enorme, preto, um espanto, officeboy em 3 ou 4 boutiques, micro-filmador, "lustrador" de fotos (por 2 dias) na famosa Foto ASZMAN, empregado doméstico (?!) na casa de um vidente, mero charlatão. Tinha na mesa bola de cristal acionada pelo joelho dele, a tomada oculta pela toalhona. Era em Botafogo !
Graças a multinacional "PARTIME", empresa de terceirização, pioneira nos anos 70 (junto com a SNELLING) eu tinha emprego garantido sempre. Com boa aparência e alguma inteligência, era muito requisitado... fui recepcionista, auxiliar administrativo, entregador de "Mapa Fiscal" e livros de contabilidade, atuei no Open Market de um Banco (mensageiro), fui balconista de sorveteria e vendedor de calçados, "rebaixado" a estoquista por inaptidão para VENDAS. Não parava em empregos... com 6 ou 8 meses eu saía, pegava a "grana" do FGTS e gastava tudo em discos LPs, revistas em quadrinhos (tivemos perto de 2 mil) e em livros de aventuras, a coleção inteira do Tarzan e outros mais. Nosso barraco era uma "biblioteca" espantosa !
No tempo das "pinballs", as primeiras mesas de jogo, games, tomei conta de grande loja nos confins de Jacarepaguá, de madrugada, passava as noites acordado... fiquei 2 meses somente. Sempre fui dorminhoco, continuo sendo, agora por falta de luz em casa, desde 29 de agosto de 2017. Agosto, mês de desgostos !
Lá por 1969 virei "estafeta", entregador de telegramas e, adiante, por 2 noites, atendente de telefone. Dormi sobre a mesa de pinos, buracos e luzes nas duas noites, o patrão me acordando de madrugada só para me demitir. Depois que conheci as funções em escritório nunca mais quiz saber de outra coisa: passei por Bancos, editoras, até um Jornal, o BALCÃO, onde fiquei por ano e meio... fui jornaleiro de O Globo no Rio (1972/73 ?), trabalhei até em bar numa favela no Leblon e, já em Belém, voltei a ser jornaleiro entre 1987 e 2003. Ainda no Rio, lá por 1972 findei segurança na Mesbla-RioSul e, do lado de cá do túnel Novo, ajudante de eletricista, um excelente técnico de TV em cores da PHILCO - Roberto, com cara e jeito de Martinho da Vila -- novidade na época. Aqui no Pará fui de "agricultor" a ajudante de marcenaria, pedreiro, capinador de quintais, entregador de sofás, etc... "pedreiro" na casa do irmão rico, findei "zelador" de um sítio da família (que me rendeu temas para 1 livro inteiro de contos) e fui "auxiliar" do famoso Paraguaçu Élleres, topógrafo. Veio para ficar semana e meia... saiu "voando" no terceiro dia. Os tais "confiantes" (5 de 6 irmãos) não queriam "pico" nenhum lá, quanto mais CERCAS... o "tempo esquentou" e as matas "tudo encobrem" (me disse o topógrafo antes de partir).
No interior, apoiado pelo jovem prefeito dr. Nonato Vasconcelos, acabei "promotor de torneios" infantis de futebol, entre 1984/86, tendo realizado em Vigia 32 TORNEIOS "oficiais" -- com troféus e providenciando camisas -- em nome da PMA. XIII, faltou papel para o restante da história. HAJA TRABALHOS... dinheiro (que é bom) "néca" !!!
"NATO" AZEVEDO (em 29/março de 2025, 4hs)