O homem banco

Eu vi um homem. Sentado. Eu vi um homem, sentado. Quem estava sentado? Um homem, em um banco. Eu estava movimentado, mas deu tempo de ver: um homem, sentado, num banco em frente a um Banco. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minha fatigada rotina.

O que estava fazendo um homem, sentado, num banco, em frente a um Banco? Aliás, o que faz com que um homem sente-se, num banco, em frente a um Banco? Não seria muito peligroso a um homem sentar-se num banco em frente a um Banco?

O homem parecia ignorar as estatísticas, e permanecia, imóvel e grande, sentado, num banco em frente a um Banco, a olhar com um olhar de montanha-russa a porta giratória girar. O que mais aquele homem poderia esperar da colossal porta de vidro?

Inclinado para frente, mãos cruzadas entre os joelhos, a expressão vaga. Esperava? Descansava? Sonhava? Será que um homem daquele tamanho grande, com seus cabelos brancos e longos, seu olhar custoso estaria disposto a ir contra todas as estatísticas e sonhar? Naquele mesmo momento em que um cachorro atravessava a rua, um entregador corria contra o tempo, uma velha conferia as moedas antes de guardá-las nos bolsos dos bolsos da calça, poderia ele está em outro lugar, além de ali, sentado, num banco em frente a um Banco, a mirar a gingante e fria porta de vidro?

Estava apressado, mas deu tempo de ver aquele homem, sentado, num banco em frente a um Banco, pensativo e robusto, existindo ou apenas descansando glúteos cansados. Ele parecia perfeitamente adaptado ao banco: o encaixe era perfeito. Pareciam ter sidos feitos um para o outro. Por um instante, o tempo pareceu suspender-se, esqueci meu destino e pensei que, talvez, o mundo pertença aos que sabem sentar e contemplar, mesmo que uma porta giratória de um Banco, e não aos que conhecem ou elaboram estatísticas.

Damião Caetano da Silva
Enviado por Damião Caetano da Silva em 29/03/2025
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