"QUANDO AS CORTINAS SE FECHAM" Crônica de: Flávio Cavalcante
QUANDO AS CORTINAS SE FECHAM...
Crônica de:
Flávio Cavalcante
O teatro é um universo mágico. Nele, tudo pode acontecer. O amor e o ódio se encontram, a alegria e a tristeza se misturam, e a vida se desenha em cenas que encantam a plateia. Mas, por trás das cortinas, longe dos aplausos e do brilho dos refletores, existe uma realidade que poucos conhecem: a do ator que ri no palco, mas muitas vezes chora por dentro.
O público vê a emoção, a entrega, o talento. Vê os olhos brilhando, o corpo dançando, a voz se espalhando pelo salão. Mas não vê o que há depois que as cortinas se fecham. Não vê o artista sentado no camarim, encarando seu próprio reflexo no espelho, onde a maquiagem esconde mais do que deveria. Não vê o cansaço, as dores, as batalhas internas que cada um carrega.
O palhaço, figura máxima da alegria, é quem melhor representa essa dualidade. Ele entra em cena sorrindo, espalhando gargalhadas, arrancando aplausos, trazendo cor ao mundo. Mas quem enxerga o homem por trás da máscara? Quem percebe as lágrimas escondidas atrás da pintura vermelha no rosto? Ele sabe que, enquanto a lona estiver erguida, seu dever é divertir. E assim faz, mesmo quando seu coração está despedaçado.
O teatro é a arte de dar vida a emoções que, muitas vezes, são opostas às que se sente por dentro. E é essa entrega que faz do ator um ser especial, alguém que transforma dor em poesia, tristeza em espetáculo, vida em arte.
Hoje, no Dia do Teatro, fica a homenagem a todos esses artistas que fazem do palco sua morada, que oferecem suas almas em troca de sorrisos, que escondem suas lágrimas para que a plateia possa sonhar. Que nunca falte luz nos refletores, que nunca faltem aplausos, que nunca falte amor pelo teatro.
Porque, quando as cortinas se fecham, a vida continua – e o artista, mais uma vez, se reinventa para o próximo ato.
Flávio Cavalcante