Dois ou Mais...
Era uma vez uma jovem professora acadêmica e seu romance digno dos contos de fada—não aqueles açucarados, mas daqueles que arranham a alma e deixam marcas eternas. Seu príncipe não montava um cavalo branco, mas vestia o uniforme impecável da Marinha, com aquele ar de oficial que faria até Richard Gere no auge de A Força do Destino corar de inveja. Ah, sim, o homem tinha pegada!
E por anos, a vida daquela professora foi um espetáculo de felicidade e paixão, como um poema épico escrito a duas mãos. Sonhos se entrelaçavam—juventude, cumplicidade, companheirismo—tudo banhado por um brilho que parecia saído diretamente do Olimpo, onde as musas sorriam, cúmplices.
Mas a vida, minha gente, não é um roteiro de Hollywood. Ela gosta de reviravoltas, daquelas que esmagam o peito e deixam o ar rarefeito. E então, num dia comum, o chão sumiu. O castelo de areia, tão cuidadosamente construído, virou pó entre os dedos. As manchetes dos jornais estamparam a tragédia em letras pretas e cruéis: "Helicóptero cai, e todos os tripulantes morrem no desastre."
O mundo desabou. Os sonhos mais reluzentes viraram estilhaços flutuando no vazio sideral. A dor era tanta que o abismo parecia um convite sedutor—um fim lógico para tamanha desolação.
Mas eis que algo estranho aconteceu. Uma força bruta, quase sobrenatural, tomou conta dela. Como se um anjo em pessoa tivesse sussurrado em seu ouvido, as palavras começaram a jorrar—sangrando em versos, desabafando em metáforas, transformando luto em arte. A poesia, essa velha amiga das almas perdidas, abraçou-a com seus braços acolhedores e a salvou da queda.
E assim, das cinzas da tragédia, nasceu "Dois ou Mais..."—um livro que carregava as últimas palavras de seu grande amor. Porque, no fim das contas, a literatura não só move montanhas... Ela ressuscita os mortos.
E para concluir, eu vou deixar vocês com a sensibilidade da poetisa Ermenilda Fernandes da Silva:
"Meu destino é um rio...
Eu, o pequeno bote.
Você, meus braços e meus remos
que me conduziram a uma praia calma e
serena...
De repente, o rio enfureceu-se...
De repente, perdi meus braços, perdi
meus remos, perdi você!...
Sou o pequeno bote... Só em meio às
águas turbulentas...
Estou sem braços, sem remos, sem rumo,
sem você"...