EM DIAS DE OUTRORA
Hoje fugirei de mim e me encontrarei nos outros, há muito o coração roga por isso. Escondido no recôndito de mim mesmo por tanto tempo, retraído e distante, dores emocionais foram acumulando, rios de saudades, mares de carência, nuvens de tristezas, chuvas de desencanto, ventos fortes de amargura se uniram em meu derredor e no mais profundo do íntimo. Esse amontoado de desalento tornava os dias ásperos, demorados e deprimentes. Gigantescos por demais para serem suportados sem o alívio do desabafo, sem o desespero da fuga de mim mesmo. O ser humano só encontra serenidade em outros braços, jamais acharia em si mesmo quando atinge esse limite.
Então fugi em tresloucada corrida na direção de sorrisos, de afetos e afagos, de acolhimento e receptividade. Estar só em momentos assim acelera a queda no abismo, recrudesce o anseio de voar ao encontro do nada. Ainda que a necessária interação perseguida possa não acontecer, valerá a pena tentar, viver se baseia em continuar tentando sempre. Talvez na insistência algumas portas se abram para acolher, alguns braços se estendam para receber e umas que outras mãos se entrelacem com as minhas. A vontade de buscar a esperança, e tão somente tal intuito, mitiga a dor de não acha-la.
Destarte, hoje eu fujo de mim mesmo seguindo a rota do coração. Pode ser que lá adiante eu depare com a alegria ao dobrar a esquina, subitamente a brisa me beije desalinhando meus cabelos e o sol queimei a frieza das mágoas. Na angústia é que descobrimos as inúmeras possibilidades de superação. Quiçá as cores do arco-íris colorem a penumbra cinzenta acumulada em dias de outrora.