O Telefone Sem Fio da Vida Real

CRÔNICA

Há alguns séculos, foi inventada uma brincadeira lúdica inspirada em jogos tradicionais de comunicação oral: o Telefone Sem Fio. O jogo se popularizou como uma forma divertida de demonstrar como as mensagens podem se alterar ao serem passadas de pessoa para pessoa.

A ideia por trás da brincadeira também se conecta a estudos sobre comunicação e distorção da informação, sendo usada até hoje para ensinar a importância da clareza na fala e na escuta. Psicólogos, linguistas e estudiosos da comunicação já analisam há tempos como pequenas alterações podem transformar completamente o significado de uma mensagem.

O Telefone Sem Fio nos ensina lições valiosas, como:

— A importância da comunicação clara;

— O impacto de pequenos erros na transmissão de informação;

— A influência da interpretação individual no que ouvimos e repassamos.

Hoje, essa brincadeira continua sendo uma ferramenta educacional útil. Mas, se olharmos bem, perceberemos que ela não se limita à infância.

Vivemos tempos em que o “Telefone Sem Fio” se tornou um fenômeno social perigoso. Fake news, fofocas e boatos correm soltos, espalhando-se como pólvora. Pessoas escutam algo por alto, interpretam à sua maneira e repassam adiante sem checar os fatos. O que era um simples comentário se transforma em uma história completamente distorcida, ganhando novas versões a cada repetição.

Hoje, tive um exemplo claro disso. Após um questionamento sem noção, percebi ainda mais essa conexão entre a brincadeira e a realidade. Alguém me tirou da sala de onde estava apenas para me fazer uma pergunta sobre minha própria vida, querendo confirmar algo que era falso. Não era curiosidade, tampouco preocupação. Era apenas a necessidade de alimentar uma narrativa sem fundamento. Naquele momento, me dei conta do quanto essa mania de levar e trazer conversas sem cabimento continua enraizada na sociedade.

O problema é que as consequências dessas distorções vão muito além de um mal-entendido. Palavras mal colocadas podem destruir reputações, causar desentendimentos e até influenciar decisões importantes. No universo digital, isso se amplifica: com um simples clique, uma informação falsa pode atingir milhares de pessoas, criando impactos irreversíveis.

Se antes a brincadeira servia apenas para nos fazer rir ao final de uma mensagem desconexa, hoje ela pode causar danos sérios à sociedade. Espalhar notícias falsas ou falar sem fundamento não é um jogo inocente—é um risco real.

Diante disso, cabe a cada um de nós refletir: somos aqueles que falam sem pensar ou aqueles que filtram o que realmente merece ser dito? Afinal, num mundo onde a informação circula de maneira instantânea, a responsabilidade pelo que dizemos e compartilhamos nunca foi tão grande.

Por Lucimar Melo