Pindotiba

Tio Juca morou uns anos lá em casa. Provavelmente ele pagava pensão porque era um jovem com emprego fixo, e minha família - meus pais e meus sete irmãos - vivia do somente do salário do meu pai.

Meu tio era - e ainda é - uma pessoa querida e que todos os sobrinhos amam. Era o único na casa que tinha um quarto só para si e que por isso o quarto até nome ganhou: “Quarto do tio Juca”.

Lembro-me que o nome perdurou mesmo depois de alguns anos que ele saiu para trabalhar em outra cidade. O lugar escolhido foi Orleans. Lá ele se empregou na Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina.

Era jovem, boa pinta, que não demorou muito para conquistar o coração de uma bonita italiana. Casou-se com a mulher que passou a ser a nossa tia Lúcia. Visitei-os quando eu tinha uns doze anos e lembro-me de duas coisas que não saem da cabeça: o passeio de trole e uma ponte pênsil de arame.

Depois ele mudou-se para uma casa com vista para uma lagoa, circundada por mata fechada, em seu recôndito natal.

O que me leva a escrever sobre ele, o tio Juca, é que depois de quarenta anos estive em Orleans, e curioso fui procurar a ponte pênsil e o trole. O trole, aquele pequeno carro descoberto que andava sobre os trilhos das ferrovias e era movido pelos operários por meio de varas, desapareceu junto com os mordentes e os trilhos da estrada de ferro. A ponte ainda está lá, viçosa, forte. Bem defronte dela há uma igreja que a minha mente não havia guardado, ou ela não existia naquela época.

Pindotiba é o nome do lugarejo e desmembrando-se a palavra, significa em tupi-guarani, abundância de palmeiras.

Fotografei com a mente e com a máquina. Vou mostrar ao tio Juca as fotos e dizer que ele ainda é lembrado naquelas plagas, carinhosamente como o seu Juquinha.

Só posso concluir essa crônica: palmeiras para Pindotiba e palmas para o tio Juca!

Aroldo Arão de Medeiros

10/06/2008

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 23/03/2025
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