Pelego da Madrugada
Ele trabalha numa fábrica de carrocerias em Joinville. É Representante Comercial e tem regalias com os diretores. Um veículo da empresa fica a sua disposição. Faz horas extras à revelia. Traz todos os comprovantes dessas horas xerografadas com a intenção de, no futuro, se a Empresa se negar a pagar, entrar com uma ação na Justiça Trabalhista para receber uma enorme bolada. O nome dele? Sabino, mas poderia ser Sabujo.
Quando a empresa entrou em greve, por melhores salários, Sabino, “solidário”, ficou à noite matutando o que faria para não entrar em conflito com seus colegas de trabalho. De manhã, bem cedinho, às cinco e meia da matina, saiu de casa, com o carro da empresa. Como o destino arma as suas peças, na AV. Celso Ramos, Sabino encontrou Ariovaldo, um piqueteiro de primeira.
Ariovaldo trancou o carro de Sabino e faz a pergunta fatídica:
- Onde tu estás indo?
- Estou levando o carro para a Oficina do Cacae.
- Que coincidência, eu marquei com ele de deixar o meu às seis e ele vai me deixar na frente da fábrica. Podes ir conosco para reforçar o piquete da greve.
- É... mas eu... eu tenho que... eu estou indo... eu tenho que ir para Jaraguá do Sul fechar um negócio para os diretores.
Sabino ouviu bastante impropérios impublicáveis.
Depois do ocorrido, ele decidiu: no próximo ano, quando chegar o dissídio coletivo ele vai propor na assembleia dos empregados, que ele chama de reunião da classe trabalhista, que os piquetes sejam terceirizados, porque aí ele pode ir e vir na fábrica sem ser reconhecido.
Aroldo Arão de Medeiros
15/08/2008