A bola...
Já naquele instante preparando-se para casar pela quinta vez, o Juiz de Paz ficou irado com a bolada que levou na sexta, dia daquelas cerimônias no Cartório de Registro Civil. Havia ido para fora do fórum, até a praça, desejar boa lua de mel ao quarto e aos três primeiros casais, pois todos requeriam sua presença no álbum fotográfico de lembranças. O menino assustado tirou a camisa do time e com ela limpou o terno que havia sujado.
A bola estava ainda rolando em direção a rua de trânsito imenso e o garoto assustado, queria atravessá-la para que não corresse mais. O sinal ficou vermelho e faixa branca apareceu, o menino amarelo, subiu na grama verde e a bola parou. Não parou o jogo e a galera gritou: “Corre, traga a bola, o tiro de meta é seu”. A meta do time de camisa desbotada, era ganhar o jogo e o “bicho” patrocinado daquela pelada! No campo aberto, sem grades e sem arquibancadas, mesmo sendo na Bahia não havia o perigo da torcida despecar no chão.
Tiro de meta batido, só se ouviu o grito de gooool. O time que ao jogo perdia empatou, e o juiz deu por encerrada a partida, além de que o tempo regular acabou. Aliado a tudo a noite chegou e postes pouco iluminados nada diziam. Calados como os potes os jogadores cansados permaneciam agachados, a espera da decisão. É fim de campeonato o juiz, bandeirinhas, massagistas e os bonés (cartola só em time rico!) tinham que decidir; naquela tarde ja chegando a noite, ou marcavam a decisão em pênaltis para outra ocasião.
A torcida voluntária que nem para isso pagou, falava mal da mãe do juiz, igualando aqueles times de crianças às manifestações dos torcedores dos times profissionais. Pelo menos a bola era redonda, embora um campo todo desigual, mas ali era pura alegria da sexta-feira à tardinha. No domingo o padre tomaria conta da frente da igreja não só para rezar missa ou batizar, mas ele haveria naquela semana de festejar ao Santo Padroeiro com festiva quermesse. Só Deus sabia como o padre desejava tudo calmo e alegre, sem bola pra atrapalhar. Já havia experiência anterior.
Escolhido o domingo, a taça do campeonato parecia uma santa levada em procissão pelas torcidas, no meio da multidão. A baliza despida sem rede, como em todos os jogos, emoldurava a porta principal do templo, Um apito; jogadores em formação, mais do que os demais atletas ele, o menino, corria atrás da bola. Com responsabilidade arrumou a desengonçada chuteira e chutou e... gooool. A bola passou na baliza em vôo sobre os degraus da igreja, da cruz de madeira os cupins voaram e ela quebrou, ao padre alcançou sujando batina e derrubando o cálice. Todos em silêncio! A missa e o jogo ali acabaram. Uma nova decisão na sexta-feira. O medo agora é do juiz!
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Seu Pedro só anda na praça quartas e sábados!