DIÁLOGO COM UM ANDARILHO

Nas andanças, vi-me frente a um andarilho que me fitou com pungente olhar e parecia querer falar-me.

Sem hesitação, ou por estar intrigado, entabulei um diálogo.

_Quem és?

Respondeu-me a cada pergunta sem pestanejar:

_ Sou eu mesmo. Deram-me um nome, com o qual me chamam. Mas julgo que não sou bem este. Julgo ser diferente do que pareço. Chamam-me Antônio, mas melhor seria, Antônimo, pelo tanto que sou diferente do que me julgam. Quase mesmo o contrário.

_Onde andas, andarilho, que te pareces sem rumo?

_Ando na vida, senhor. Ando nos caminhos do mundo e procuro o meu.

_ Não tens vontade de ser diferente?

_ Tenho sim. Tenho vontade de ser melhor do que sou, embora eu já tenha aprendido ser bem autêntico. Tenho vontade de compreender mais as pessoas e seus questionamentos. Tenho vontade de entender melhor a vida... E ainda tenho vontade de me integrar mais com a natureza, ser uno com ela e assim talvez pudesse aproximar-me mais do mundo das divindades.

_ Que idade tens?

_ Não sou muito novo, senhor. Tenho menos que pareço ter, por fora, e por dentro tenho mais. Contudo, gostaria mesmo, é de ter somente uma idade - a do aprendizado. Esta é a melhor idade. Antes dela nada somos e se nos cuidarmos bem, ela nunca acaba; nem mesmo quando a mente vai-se embora... pois bem-no-fundo a gente continua aprendendo.

Então muito mais intrigado que antes, pelas palavras de Antônio (ou sei lá quem realmente era) arrisquei mais uma pergunta, que depois arrependi ter feito:

_ Não tens vontade de ser igual aos outros?

_ Mas sou igual, senhor. O que me difere é a opção. Optei por uma busca diferente; não busco por metais (ouro, prata, ... outros valores materiais) Optei por buscar outras coisas, outros caminhos, conforme disse antes ao senhor. ... E se me der licença, devo continuar minha busca e meu caminho, pois hei de muito caminhar.

Completamente perplexo, disse a Antônio, que agora parecia-me mesmo um antônimo do que parecia ser, que tinha toda licença. Senti-me ridículo e dar licença a quem eu mesmo interpelara.

Com menos de dois passos ou por minha perplexidade, parece que sumiu, pois não sei mesmo dizer pra que lado foi, ou que rumo tomou. Certo é que sinto imensa vontade de encontrá-lo novamente para mais “ dois dedos “ de prosa.