O pedido de Pedrinho
Coçando os olhos e espreguiçando-se feito um fisiculturista, Pedrinho acordou com um pedido inusitado ao tio:
— "Tchiu", me leva pra um lugar onde eu nunca estive?
O tio, homem não vivido e dado a indiretas, retruca:
— Como seria esse lugar, Pedro?
O garotinho de sete anos e onze dentes em construção, aproximados trinta quilos, franze a testa, arregala os olhinhos miúdos e castanhos. Parece suspeitar da audição do "tchiu":
— Um lugar onde eu nunca estive, "tchiu".
— Doce ou salgado, Pedrinho?
— Doce, "tchiu". Quero ir para um lugar onde o açúcar está.
— E o vento? Como seria o vento nesse lugar onde você nunca esteve?
— Seria assim, "tchiu", e ilustra com as mãos uma microscópica ventania, um pequenino redemoinho juvenil e alado.
O tio lhe sorrir, como se também quisesse ir a esse lugar onde o vento teria gosto de mato e não de sabonete Johnson.
— E nadar, Pedrinho? Você nada?
Pedrinho levanta uma sobrancelha e responde apressado:
— Não, "tchiu".
— Como assim, Pedrinho? Você não nasceu no Rio?
— Sim, "tchiu". Mas foi no Rio de Janeiro...
— E as pessoas, Pedrinho? Como seriam nesse lugar onde você nunca esteve?
Pedrinho, correndo em direção à vó:
— Seriam iguaizinhas à vovó: cheias de histórias com final feliz, cafunés, de abraços largos, de balas não mortais nos bolsos...
É uma resposta justa e inesperada, admiti para si o tio de Pedro.
— Muito bem, Pedrinho. Você me convenceu. Vamos lá! A esse lugar onde você nunca esteve. Um lugar doce, com vento matagal e pessoas parecidas com a vovó.
Minutos depois, estão na estrada. Pedrinho, curioso, observa a paisagem pela janela, tentando adivinhar para onde está indo.
— "Tchiu", já chegamos?
O tio faz suspense, mas admiti para si mesmo: "Não, Pedrinho. Não chegamos e talvez nunca chegaremos. Jequiá da Praia e Pão de Açúcar, Pedrinho, não existem". Mas, diante das expectativas fabulosas de Pedrinho, o tio rende-se a uma doce dose de otimismo:
— Quase, Pedrinho. Estamos quase chegando. É logo ali.