1956

Uma ida ao café-botequim da esquina da antiga Nascimento e Silva. Encontrei Vinícius filosofando acompanhado de garotas de Ipanema e Copacabana e uma boa garrafa de uísque. Ele me pediu pra acender o seu charuto. Praia do Leme – Maiôs de babadinhos & biquínis de Bolinhas que eram quase amarelinhas e eram pra mim tentadores. As mulheres tinham uma beleza supernatural e proporcional aos meus olhares. Depois dei um rolé no subúrbio e suas centrais. Fui até Cascadura, bebi e sambei com os boêmios de Irajá no cemitério. Fui até Ramos e acho que lá já havia um cacique. Vou à padaria, peço um pão com queijo, salame e mortadela. Uma Coca-cola ou Mineirinho. Um maço de cigarro Continental e pretendo subir algum morro. O primeiro queu passei foi na Mangueira e troquei um dedo de prosa com Cartola que usava um chapéu panamá. Nelson que tava sem o cavaquinho. Carlos que tava biritando uma cachaça e um conhaque bem traçado. Saímos de lá fomos até Oswaldo Cruz e a Portela estava de braços de águia abertos para nós. Fomos bem recebidos por Natal, Monarco, Casquinha, Argemiro, Candeia e todos aqueles bambas de prima, de primeira, toda aquela nata. E a Lua levemente anuncia a noite. Baixo-Leblon e Alta Gávea. Lá está, Antônio Maria no auge, no ápice da bebedeira numa gafieira dando em cima, dando o seu galanteio em alguma loura gelada (literalmente). E logo depois, começa a escrever a primeira linha de sua próxima crônica irônica. O garçom atende o pedido de algum freguês não-sóbrio (é óbvio!) para ligar o rádio. E ouve-se a voz de dois ícones Ary Barroso e Lamartine Babo discutindo sobre uma nova onda, uma nova música chamada Rock`n Roll que incita a transviadez dos jovens cariocas como de um tal de Carlos Erasmo e outro chamado Carlos Roberto. Mas antes o que os chocava era um outro tipo de música que faziam dois jazzsambistas: Dick Farney e Lúcio Alves (futuramente intitulados Pré-Bossanovistas). Mas eu quero mamar, Mamãe eu quero mamar a Virgínia Lane. Só não quero portar o bigode maroto do Cauby. Eu quero estar com os Beats em algum lugar da América viajando, enlouquecendo e dilacerando corações bobos, bestas e mentes tacanhas e babacas que contribuíram para dar cabo da vida de Dylan Thomas. Mas ao mesmo tempo não conseguiram conter a fúria da geração que viria logo em seguida...

FELIPE REY

Felipe Rey
Enviado por Felipe Rey em 22/01/2008
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