Trinta
Fazer 30 anos é como atravessar uma porta invisível. De um lado, você ainda se sente jovem, cheio de possibilidades, acreditando que tem todo o tempo do mundo. Do outro, vem a constatação: o tempo está passando, e agora você é oficialmente um adulto de verdade—querendo ou não.
Dizem que os 30 são os novos 20, mas quem fala isso claramente não tem 30 ainda. Porque há diferenças sutis, mas profundas. As ressacas são mais longas. As costas doem sem motivo aparente. Uma noite bem dormida se torna um prêmio valioso, e não uma coisa garantida. Você começa a avaliar melhor onde coloca sua energia, porque já percebeu que ela não é infinita.
Aos 20, a gente tem essa ilusão de que, aos 30, tudo estará resolvido. Que teremos carreiras sólidas, estabilidade financeira, relacionamentos bem definidos, talvez até um apartamento bem decorado com plantas que não morrem. Mas aí os 30 chegam, e a realidade é outra. Alguns de nós estão casando, tendo filhos. Outros estão largando tudo para começar de novo. Alguns estão comprando imóveis; outros ainda dividem aluguel com amigos. Não há um roteiro certo, e essa talvez seja a maior descoberta dessa fase.
É um período de comparação inevitável. Você olha para o lado e vê amigos em fases completamente diferentes. Há aqueles que já têm família, aqueles que estão viajando pelo mundo sem amarras, aqueles que atingiram o auge da carreira e aqueles que ainda não têm ideia do que querem fazer. E, no meio disso tudo, há você, tentando entender se está no caminho certo ou se deveria ter feito escolhas diferentes.
Aos 30, as prioridades mudam. A ansiedade de querer agradar a todos diminui um pouco. Você percebe que não precisa estar em todos os lugares, com todas as pessoas, o tempo todo. As amizades se tornam mais seletivas, mas também mais profundas. Percebemos que qualidade importa mais do que quantidade, seja nas relações, seja nas escolhas. As pequenas coisas passam a ter um valor maior: um jantar tranquilo em casa, uma conversa sincera, a paz de não precisar provar nada para ninguém.
Também é a fase em que aprendemos, muitas vezes da forma mais difícil, que cuidar de nós mesmos não é um luxo, mas uma necessidade. O corpo dá sinais, a mente pede descanso. Exercícios, alimentação e sono passam a fazer mais diferença do que gostaríamos de admitir. Não porque queremos ter um "corpo de verão", mas porque simplesmente queremos nos sentir bem. Descobrimos que dormir bem é melhor do que virar a noite em uma festa qualquer. Que beber água faz mais diferença do que imaginávamos. Que algumas dores e cansaços não vão embora tão fácil.
E, claro, as cobranças vêm junto. O mundo espera que você tenha respostas, planos bem traçados, um caminho claro. Se você está solteiro, perguntam quando vai namorar. Se está namorando, perguntam quando vai casar. Se está casado, perguntam sobre filhos. Se já tem filhos, perguntam quando vem o próximo. Parece que sempre há um próximo passo esperado, como se a vida fosse um roteiro fixo, e qualquer desvio fosse um erro.
Mas, no fundo, ninguém sabe exatamente o que está fazendo. Estamos todos improvisando, tentando equilibrar sonhos, responsabilidades e o inesperado. A maior lição dos 30 talvez seja essa: não há uma única maneira certa de viver. E está tudo bem não ter todas as respostas.
Outro dia, alguém me perguntou o que eu diria para minha versão de 20 anos, se pudesse voltar no tempo. Eu pensei bastante antes de responder. Eu diria: "Calma. Você não precisa ter tudo resolvido agora. Você vai errar, vai mudar de ideia, vai se sentir perdido às vezes. E tudo isso faz parte. No fim, você vai perceber que a vida é menos sobre chegar a um destino e mais sobre aprender a aproveitar o caminho."
Fazer 30 não é um fim, nem um marco definitivo de sucesso. É apenas um novo começo, com seus desafios, suas descobertas e uma certeza maior de que a vida não precisa ser perfeita para ser incrível. E que, apesar de tudo, estamos apenas começando.