Panteras e eu
“Panteras e eu”
A onça-pintada é o maior carnívoro da América Latina, já habitou o México e até o Arizona, onde havia duas subespécies. Acredito que não existam mais. Seu aspecto corporal é bem semelhante ao leopardo. Mas mais ágil e móvel. Sua força em saltos é espetacular. A fêmea é um pouco menor do que o macho, mas não há aparente diferença entre eles.
Habita desde o cerradão de Goiás até matas fechadas da Amazônia, passando pelo Pantanal. Apesar de não estar em extinção, é difícil de ver. Sua morada está sendo empurrada para longe. Vítima de fazendeiros energúmenos que interpretam que ela assassina o gado velho e doente.
Dentro de sua anatomia, os ocelos (aquelas pintas) são a grande graça. Nenhuma tem um padrão igual. Suas costas estão sempre arqueadas, dando a impressão de defesa e ataque ininterruptos. Apenas no coito o arco se inverte.
Um de seus –poucos- inimigos naturais é o tamanduá. Seu abraço faz-lhe perder o fôlego e pode matá-la se cravar bem suas unhas. Pois não se desprenderá facilmente.
Uma das mais belas lendas que envolvem o jaguar é a sua relação estreita com o macuco. Grande ave da mata, que assovia um ruído semelhante a um “fon”. Dizem que hipnotizado pelo assovio da pintada, vai atrás daquele som mavioso. E quando se encontram, a fêmea felina devora o macho pássaro.
Porém algumas vezes duas onças podem estar emitindo o mesmo piado. E uma delas é preta. O canguçu. Ou jaguaretê. Ou onça-preta. Não é uma subespécie. Apenas uma variação de cor. O excesso de melanina faz-lhe negra, mas mantém os seus ocelos. Detalhe pertinente; seus olhos são sempre verdes. E é mais encontradiça nas matas cerradas.
O barulho emitido pelas onças é chamado de esturro. Pode ser ouvido a quilômetros de distância. É ao mesmo um tempo um chamado: - venha! Ou um recado: - estou aqui! Como praticamente não possui rivais à altura, ela não se sente inibida em gritar. Sua caixa de ressonância é ampla, pois é grande nadadora.
A única maneira de caçar uma onça é encurralando-a. A tocaia. Segui-la durante dias com cães adestrados para tal. Ela jamais se entregará sem luta. Será encontrada em cima de um galho alto ou ilha. Ocasionalmente estará perto da sua última caça. Mas sempre distante da toca onde guarda seus filhotes.
O encontro final é célebre. Fincando uma lança longa em seu peito, o caçador com sua zagaia (ou azagaia) apaga o belíssimo animal. Levando a pele como prêmio. E o medo como lembrança.
Entretanto, minha relação com ela -a onça- é bem mais afetiva. Procuro-a sem cessar. Tento despertá-la. Não tenho pressa. A conquista se dá paulatinamente. Envolvo-lhe com toques, música, lugares. E de uma hora para outra lhe atinjo com uma haste não tão comprida, porém tão efetiva quanto. Não há recompensa alguma, e o que me resta é o sonho de saber que cada pessoa possui uma bichona dessas dentro de si. Umas vivem mais, outras menos. Só uma sempre.
Dentro das três grandes espécies de mulheres, hoje faço uma referenda as panteras. Outro dia falo das leoas e das éguas...
JB Alencastro