"FLORES QUE NUNCA CHEGAM EM VIDA" Crônica de: Flávio Cavalcante
FLORES QUE NUNCA CHEGAM EM VIDA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Já reparou como os elogios mais bonitos sempre são ditos no velório? Como os abraços mais apertados ficam para o último adeus? Como o "eu te amo" vem tarde demais, quando já não há ouvidos para ouvir?
Parece que a vida moderna nos empurra para longe dos sentimentos mais simples. Estamos sempre correndo: trabalho, contas, compromissos, celular vibrando a cada minuto. O tempo escorre pelos dedos como areia fina, e, sem perceber, adiamos o essencial. "Depois eu ligo", "Amanhã eu visito", "No fim de semana eu passo lá". Mas o tempo não espera. Então, quando a morte chega — e ela sempre chega —, os mesmos que não tinham tempo para um telefonema aparecem com discursos comoventes. "Era uma pessoa maravilhosa", "Fazia tudo por todos", "Vai deixar saudades". Lágrimas caem, coroas de flores chegam, beijos são depositados na testa fria do morto. Mas nada disso serve mais.
O que custava ter dito isso antes? O que impedia aquele abraço apertado quando ainda havia calor no corpo? Por que a declaração de amor ficou para depois? Talvez porque encarar o amor em vida seja difícil. Exige presença, exige vulnerabilidade. É mais fácil seguir a rotina do que parar para dizer o que realmente importa.
A morte, paradoxalmente, nos ensina sobre a vida. Nos mostra que o tempo não é infinito, que os "depois" nem sempre chegam e que as palavras guardadas viram remorsos pesados. Então, enquanto há tempo, abrace mais. Ligue hoje. Diga que ama. Não espere para levar flores ao cemitério — leve-as agora, enquanto podem ser sentidas. Fica aí toda uma reflexão.
Flávio Cavalcante