Figuras Inesquecíveis da Minha Rua - II

Eu me acostumei a vê-lo cortando a Rua Carlos de Campos todas as manhãs. Era forte como um touro, sempre descalço e sem paletó, às vezes fazia companhia para nós, crianças, que íamos à Escola. Era muito cordial conosco e falava sempre de uma maneira que nós pudéssemos entender, devido a nossa pouca idade.

Diziam os adultos, que ele era muito violento e brigava com facilidade, e devido à sua força enorme, poucos se atreviam a enfrentá-lo. Se na noite anterior havia brigado no bar do “Arranca Calos”, no Laurindo Teixeira, ou no “Último Gole”, na manhã seguinte caminhando ao nosso lado, era a mesma criatura dócil, paternal, quase infantil.

Ele ia todos os dias aos hotéis, pensões, e mesmo casas de família, rachar lenha, visto que naquela época os fogões eram, na sua maioria, à lenha. Levava ele, dentro de um saco de estopa, machado, marreta e cunhas, todos utilizados no seu trabalho diário.

Um dia eu lhe perguntei se todas aquelas ferramentas não eram pesadas para ele levar. Então ele parou e me disse; “...As coisas mais pesadas da vida, são aquelas que o destino traça para você, e muitas vezes você não está preparado para evitá-las, um dia você vai entender melhor..”.

Sei que era uma criatura muito conhecida em Campinas, com uma boa e grande família, e que se tinha defeitos para os outros, para mim sempre foi muito cordial e humano.

Seu nome: Maneco Duarte.

Laércio
Enviado por Laércio em 22/01/2008
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