Hoje fui buscar a criança em mim e, com ela, vieram as lembranças...cenas que povoaram a minha imaginação e são a causa, talvez, das minhas mais loucas fantasias de adulta...
Nygime era seu nome. Ainda me lembro de suas mãos tatuadas, de seus olhos sempre marcados pelo kajal, dos véus que ela nunca abandonou, mesmo após tantos anos no Brasil.
Minha avó, na realidade, nunca deixou sua terra, a Síria, ainda que tenha se casado, muito jovem ainda, com um libanês. Nunca falou uma palavra de português, nunca se interessou em aprender. Talvez por isso eu tenha crescido num ambiente totalmente árabe, como se vivesse lá. Talvez por isso eu tenha aprendido a ser uma verdadeira homssie (filha de Homs, uma grande cidade da Síria).
Eu me lembro ainda como ficava encantada vendo-a socar o kibe em um pilão de pedra, enquanto contava histórias de sua terra distante. O tilintar das inúmeras pulseiras (eram mais de vinte ou trinta..sei lá!) soava como um mantra nos meus ouvidos de criança e a minha imaginação viajava, em busca daquela terra distante, dos seus costumes e de sua deliciosa comida... Um povo alegre e hospitaleiro, que se reunia nas noites claras para dançar o dapki, uma dança de roda onde os homens agitavam lenços, geralmente saudando a dançarina que ia para o meio da roda, executar sua dança individual. Foi minha site (avó) quem me contou que, a princípio, teria sido uma dança sagrada, executada pelos nômades do deserto, como um ritual em noites de lua cheia. Todas as filhas aprenderam a dançar com ela, todas as filhas ensinaram as filhas, para que a tradição nao se perdesse.
Foi da minha site que ouvi pela primeira vez a história dos tuaregs, os chamados " homens azuis" do deserto, guerreiros nômades, conhecidos por esse nome porque vestiam uma capa e um turbante azul. Na minha imaginação de criança eu os via, cavalgando pelo deserto, com suas adagas na cintura, com a tatuagem nas maças do rosto, identificando a tribo à qual pertenciam.
Cresci, me ocidentalizei, por força da escola, das amizades e do próprio país onde nasci e fui criada. Mas... lá no fundo, na imaginação da criança, ficou gravada a imagem do tuareg. Deve ter sido meu primeiro amor, minha primeira identificação com o macho, meu primeiro sonho de menina. Será que Freud explica ????
Cresci...procurando meu tuareg. Pensei ter encontrado quando me casei. No desespero de realizar minha mais louca fantasia, meu falso tuareg me levou para a Síria, para o Marrocos, até para o deserto, para o meio de um acampamento dos verdadeiros " homens azuis". Em vão. O meu tuareg não estava lá....e, o que é pior, não era ele.....
AH!!!! Site! Suas histórias me fizeram tão bem e, ao mesmo tempo, tão mal...até hoje procuro o guerreiro que vai se encantar com a minha dança e cravar seu punhal na entrada da tenda, marcando seu território....
A mulher adulta que sou hoje sabe que tuaregs não existem mais, mas ...a criança que se encantava com suas histórias...ainda espera por ele...
Nygime era seu nome. Ainda me lembro de suas mãos tatuadas, de seus olhos sempre marcados pelo kajal, dos véus que ela nunca abandonou, mesmo após tantos anos no Brasil.
Minha avó, na realidade, nunca deixou sua terra, a Síria, ainda que tenha se casado, muito jovem ainda, com um libanês. Nunca falou uma palavra de português, nunca se interessou em aprender. Talvez por isso eu tenha crescido num ambiente totalmente árabe, como se vivesse lá. Talvez por isso eu tenha aprendido a ser uma verdadeira homssie (filha de Homs, uma grande cidade da Síria).
Eu me lembro ainda como ficava encantada vendo-a socar o kibe em um pilão de pedra, enquanto contava histórias de sua terra distante. O tilintar das inúmeras pulseiras (eram mais de vinte ou trinta..sei lá!) soava como um mantra nos meus ouvidos de criança e a minha imaginação viajava, em busca daquela terra distante, dos seus costumes e de sua deliciosa comida... Um povo alegre e hospitaleiro, que se reunia nas noites claras para dançar o dapki, uma dança de roda onde os homens agitavam lenços, geralmente saudando a dançarina que ia para o meio da roda, executar sua dança individual. Foi minha site (avó) quem me contou que, a princípio, teria sido uma dança sagrada, executada pelos nômades do deserto, como um ritual em noites de lua cheia. Todas as filhas aprenderam a dançar com ela, todas as filhas ensinaram as filhas, para que a tradição nao se perdesse.
Foi da minha site que ouvi pela primeira vez a história dos tuaregs, os chamados " homens azuis" do deserto, guerreiros nômades, conhecidos por esse nome porque vestiam uma capa e um turbante azul. Na minha imaginação de criança eu os via, cavalgando pelo deserto, com suas adagas na cintura, com a tatuagem nas maças do rosto, identificando a tribo à qual pertenciam.
Cresci, me ocidentalizei, por força da escola, das amizades e do próprio país onde nasci e fui criada. Mas... lá no fundo, na imaginação da criança, ficou gravada a imagem do tuareg. Deve ter sido meu primeiro amor, minha primeira identificação com o macho, meu primeiro sonho de menina. Será que Freud explica ????
Cresci...procurando meu tuareg. Pensei ter encontrado quando me casei. No desespero de realizar minha mais louca fantasia, meu falso tuareg me levou para a Síria, para o Marrocos, até para o deserto, para o meio de um acampamento dos verdadeiros " homens azuis". Em vão. O meu tuareg não estava lá....e, o que é pior, não era ele.....
AH!!!! Site! Suas histórias me fizeram tão bem e, ao mesmo tempo, tão mal...até hoje procuro o guerreiro que vai se encantar com a minha dança e cravar seu punhal na entrada da tenda, marcando seu território....
A mulher adulta que sou hoje sabe que tuaregs não existem mais, mas ...a criança que se encantava com suas histórias...ainda espera por ele...