O Inferno no Andraus: Relatos de Sobreviventes e a Comemoração da Vida
Na tarde de 24 de fevereiro de 1972, o Edifício Andraus, localizado na Avenida São João, em São Paulo, foi palco de uma tragédia que marcaria para sempre a vida de muitos, incluindo diversos funcionários da Siemens. Para aqueles que sobreviveram, o que restou foi não apenas a dor e o trauma, mas uma necessidade profunda de refletir sobre a vida e de ressignificar os dias e as escolhas que vieram depois.
"Eu também estava lá", dizem muitos, com a voz carregada de memórias e os olhos marejados. Para alguns, a fuga pelas escadas, às 22h, foi a última oportunidade de escapar daquele inferno de fogo e fumaça. Era uma luta contra o tempo, o calor insuportável das escadas, enquanto a desesperança tomava conta. "Saímos juntos depois de tentarmos e tivemos que esperar as escadas esfriarem", conta um sobrevivente da Siemens, lembrando da angústia daquele momento crítico. Outros, como um estagiário que havia retornado da Alemanha, tentaram descer pelo cabo para-raios do edifício, mas a força da gravidade e a temperatura os impediram de escapar.
Entre os que conseguiram fugir, alguns viveram a experiência de ser resgatados por helicópteros. "Saí de helicóptero", diz outro sobrevivente, com uma simplicidade que mal esconde a complexidade do que isso significou. Era o fim do pânico, mas também a marca de um dia que jamais seria esquecido. Enquanto as pessoas eram retiradas por helicópteros, a cidade abaixo assistia em silêncio ao drama que se desenrolava.
E mesmo com as imagens de colegas se jogando do prédio, o cheiro de queimado no ar e o desespero nas ruas, houve aqueles que, em meio ao caos, encontraram forças para ajudar. "Tive a oportunidade de ajudar muita gente, inclusive a subir nos helicópteros", diz um sobrevivente da Siemens. Era uma jornada de vida e morte, onde cada ato de coragem se tornava uma história que se espalharia, entre suspiros e lágrimas, pelos anos seguintes.
Com o tempo, a dor foi se transformando em reflexão. "Cada ano que passa, temos que comemorar a vida", afirma um dos sobreviventes, como se aquele dia, mais do que um símbolo de tragédia, fosse um marco de resiliência. Para todos, o incêndio representou não apenas uma ferida, mas uma mudança irreversível. A cada aniversário, a cada novo ciclo, havia a oportunidade de ressignificar a vida, de valorizar os momentos que, antes do incêndio, eram tomados como garantidos.
A tragédia do Andraus, que levou vidas e alterou tantas outras, segue viva nas memórias e nos corações daqueles que saíram de lá, desfigurados, mas ainda com a chama da vida acesa. "Tbm saí na 1ª turma pela escada", escreve um sobrevivente da Siemens, como se essa lembrança fosse agora um elo com outros que estavam ali, como o Kiko, cujos destinos se cruzaram naquele exato momento de fuga.
Esses relatos, dolorosos e poderosos, não são apenas lembranças, mas testemunhos de força, de resistência. Não apenas de um edifício em chamas, mas de vidas que, apesar da tragédia, seguiram em frente, e, a cada ano, aprenderam a comemorar a vida.
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Versão 2
Andraus - A Tragédia tem protagonistas
Hoje, o amigo Toninho Junqueira publicou em uma rede social uma foto com a capa da revista “BIS – Boletim Interno Siemens”, edição nr. 23 – Abril/1972, que traz a imagem do Edifício Andraus em chamas, com a seguinte pergunta:
“24 de Fevereiro de 1972 - No momento desta foto, eu estava lá. Mais alguém neste grupo?”
“Eu fiquei nas escadas internas. Sai de helicóptero por volta das 9:00 da noite.”
Ele está se referindo ao incêndio no edifício Andraus, que ocorreu em 24 de fevereiro de 1972, na Av. São João, em São Paulo. Foi uma tragédia marcante, principalmente para funcionários de empresas que operavam no prédio, como a Siemens, a Quimbrasil e outras.
O incêndio começou por volta das 16h e se alastrou rapidamente pelos andares superiores do edifício. O fogo e a fumaça causaram pânico entre os ocupantes, levando muitos a tentarem escapar pelo telhado. Felizmente, helicópteros conseguiram resgatar dezenas de pessoas, evitando um número ainda maior de vítimas. No entanto, 16 pessoas perderam a vida e mais de 300 ficaram feridas.
Foi um dos incêndios mais marcantes da história de São Paulo, junto com o do edifício Joelma, ocorrido dois anos depois. Esse tipo de tragédia impulsionou mudanças nas normas de segurança contra incêndios em edifícios comerciais no Brasil.
Mas, certa vez me perguntaram: “Você conheceu alguém que passou por esse episódio?”
Sim, respondi. Eu cheguei na empresa Siemens, pouco mais que uns 7 a 8 anos após esse terrível pesadelo, em janeiro de 1980. Mas conheci muitos colegas da Siemens que sobreviveram à essa tragédia. São relatos tristes, inesquecíveis, marcantes na vida deles e da história da empresa.
Sempre tentei imaginar o impacto profundo que essa tragédia teve na vida dessas pessoas. Sobreviver a um evento tão traumático como o incêndio do Andraus deve ter deixado marcas emocionais que jamais se apagam.
Os relatos dos sobreviventes costumam carregar uma mistura de medo, desespero e, para alguns, uma sensação de renascimento. Invariavelmente ao contarem, não há como não perceber o emocional, na voz, no semblante, na narrativa pausada, nos olhos...
A Siemens, sendo uma das principais empresas com escritórios no prédio, viveu esse episódio como um divisor de águas. Teve que, às pressas, construir sua sede em outro local, onde se encontra até hoje no bairro de Pirituba, zona norte de São Paulo, enquanto adaptava suas fábricas na Lapa para receber os colaboradores provisoriamente.
Ouvi muitas histórias que me marcaram especialmente.
Sim... foram várias ... muitas mesmos, trabalhei com vários desses colegas, muito embora e como disse, tenha chegado na empresa depois desse triste episódio
Era um ambiente carregado de lembranças e resiliência. Mesmo anos depois, o incêndio do Andraus sempre foi tema recorrente entre os colegas que viveram aquilo. Percebi que essa experiência influenciou a cultura da empresa ou a forma como essas pessoas encaravam o trabalho e a vida. A começar pela adaptação dos escritórios em outra parte da cidade, e o esforço para que todo o possível fosse resgatado, para dar continuidade às demandas empresariais, as quais, em que pese o tamanho do acidente, clientes e produção tinham que ter assistência.
Até hoje, em grupos de relacionamento social os sobreviventes postam imagens desse dia.
Isso mostra o quanto essa tragédia continua viva na memória de quem a viveu. Momentos assim deixam marcas profundas, e compartilhar imagens e relatos deve ser uma forma de manter a conexão entre os sobreviventes e honrar aqueles que não conseguiram escapar.
Nos grupos, as pessoas falam sobre o resgate, o pânico daquele dia ou sobre as mudanças que isso trouxe para suas vidas.
Tem de tudo. Desde como conseguiram sair daquele inferno, como de colegas que viram outros se jogarem do edifício. Um especificamente havia sido agraciado com um período de dois anos de estágio na Alemanha. Não se sabe por que, ele veio da Alemanha naqueles dias e estava na empresa para ver os amigos. Tentou sair descendo pelo cabo para-raio do edifício, mas, devido temperatura e peso do próprio corpo caiu. São assim, relatos bem fortes.
Relatos como esse são de cortar o coração. A história desse estagiário que voltou da Alemanha e acabou falecendo de forma tão trágica mostra o quanto o destino pode ser cruel. O desespero deve ter sido imenso para ele tentar descer pelo para-raios, e isso ilustra bem a falta de alternativas que muitos enfrentaram naquele dia.
Imagino que, para os sobreviventes, essas lembranças nunca tenham se apagado. Mesmo depois de tantos anos, o impacto emocional deve ser enorme. De certa forma, eu senti que esses colegas carregavam um trauma silencioso, ou às vezes eles falavam abertamente sobre o que viveram.
Sem dúvidas que todos os sobreviventes falam desse episódio com os olhos marejados até hoje.
Não tem como ser diferente. Um evento tão traumático quanto o incêndio do Andraus marca para sempre quem o viveu. Deve ser difícil até colocar em palavras tudo o que sentiram naquele momento — o medo, o desespero, a incerteza, a dor de ver colegas perdendo a vida.
É impressionante como essas memórias ainda são compartilhadas décadas depois, mostrando que a tragédia não ficou apenas na história da cidade, mas na pele e na alma de quem esteve lá.
Relutei muito em registrar esses relatos, para, embora de forma distante do episódio, preservar essa memória.
Apesar de conhecer muitos relatos, eu cheguei lá depois disso e, em respeito aos que realmente sofreram esse trauma, nunca aventei a hipótese de escrever relatos sobre isso. É como usurpar direitos e um pouco da dor que muitos deles tiveram. E, como diz também o velho ditado: “Não se fala de cordas em casa de enforcados”. Os relatos que tenho foram sempre espontâneos.
Creio que faz todo sentido esse pensamento. Esse tipo de tragédia pertence, de certa forma, àqueles que a viveram, e respeitar essa dor é essencial. Ainda assim, manter viva a memória desse episódio é importante, principalmente para lembrar o impacto humano por trás dos números e das imagens históricas.
Mesmo se escrevesse sobre isso, já fiz muito ao ouvir e carregar comigo essas histórias. E, de certa forma, cada vez que compartilho o que ouvi, é uma forma de manter viva a lembrança dos que passaram por aquele dia terrível.
Há que se entender esse ponto de vista. Respeitar a dor e o trauma de quem viveu essa tragédia é fundamental, e a decisão de não escrever sobre isso é uma forma profunda de honrar e preservar a memória de quem sofreu. Cada experiência é única e, às vezes, a melhor forma de manter viva a memória é através do silêncio respeitoso e das conversas que ajudam a compartilhar e processar essas histórias.
Eu também não falo muito de minha própria experiencia, quando criança, sobrevivi à uma explosão de combustível dentro de minha casa. Tenho marcas indeléveis de queimaduras por todo o corpo.
Sobrevivências assim marcam a gente de um jeito profundo, e só quem passou por algo assim sabe o peso real dessas memórias.
Seja no incêndio do Andraus ou na minha própria experiência, o que fica é a resiliência de quem sobrevive e segue em frente, carregando cicatrizes que contam histórias. Assim, pelos motivos elencados, venceu a necessidade de contribuir para perpetuar esses fatos, a partir da versão dos que realmente a viveram.
Para elaborar um texto que contemple todos esses relatos e a experiência vivida pelos sobreviventes do incêndio do Edifício Andraus, seria interessante construir uma narrativa que fosse simultaneamente íntima e coletiva, capturando a dor, a resistência e as lições extraídas da tragédia. A ideia é dar voz aos relatos, preservando o tom de respeito e, emoção, sem querer superpor a experiência pessoal de cada um. Assim, esse texto longo, de certa forma, vejo como um ensaio com todas essas considerações.
Voltando ao início, e comentando cada depoimento, selecionei apenas alguns, e, assim que o amigo Junqueira publicou a lembrança citada no início, quase de imediato começaram as manifestações e testemunhos dessa tragédia:
1 - Angelo Bell
“Eu trabalhei com o Deguchi que também estava lá nesse dia... Às vezes ele contava sobre esse dia, realmente era muito triste 😢”
Como podemos perceber, internamente na empresa esses relatos foram sempre manifestados ao longo dos anos desde o terrível fato que abalou a cidade de São Paulo até nossos dias.
2 - Oscar Satoshi Mito
“Eu também estava lá Junqueira , saí de helicóptero !”
Esse relato, direto e conciso, carrega uma grande carga emocional. Sair de helicóptero deve ter sido um momento de alívio, mas também de uma sensação muito forte de "escapar por pouco". Imagino que, para quem estava lá, o som dos helicópteros se aproximando fosse ao mesmo tempo uma salvação e uma lembrança vívida da situação desesperadora.
O fato de ter mencionado o "Junqueira" indica que a pessoa se lembrava de quem estava ao seu lado, talvez um colega ou alguém que compartilhou o risco e a experiência daquele momento. O compartilhamento de algo assim também parece uma forma de manter a conexão entre os sobreviventes, como se isso os unisse em um vínculo forte e indestrutível.
Há que se perceber como esse tipo de lembrança é compartilhada, quase como uma forma de manter vivo o "grito de socorro" que, de algum modo, transformou a vida de todos
3 - Kiko Teixeira
“Junqueira eu também estava lá. Saí de lá, pelas escadas, cerca das 22h00. Fui da 1ª. turma que saiu pelas escadas. Tive a oportunidade de ajudar muita gente, inclusive a subir nos helicópteros. Foi uma experiência difícil, mas que fez com que refletisse sobre a vida e mudasse muitas coisas para o meu próprio e de quem compartilhei os meus dias desde então.”
Esse relato mostra bem como, mesmo em meio ao caos, algumas pessoas conseguiram ajudar outras e encontrar um novo sentido para suas vidas depois do trauma. Sair pelas escadas tantas horas depois do início do incêndio já demonstra a resistência e o sangue frio dessa pessoa.
E pensar que, além de salvar a própria vida, ela ainda ajudou outras pessoas a subirem nos helicópteros... São histórias assim que mostram a coragem e a humanidade em meio à tragédia. Com certeza, essa experiência transformou profundamente a forma como essa pessoa enxerga a vida.
4 - Minoru Kobayashi
“Cada ano que passa, temos que comemorar a vida!”
Essa frase resume perfeitamente o impacto profundo que uma experiência como o incêndio do Andraus pode ter sobre a vida de uma pessoa. Celebrar a vida, ano após ano, é uma forma de resistência e resiliência diante de uma tragédia que poderia ter tido um desfecho muito mais devastador.
Comemorar a vida, mesmo após tanto sofrimento, é um ato de força e de valorização de cada momento. Para os sobreviventes, provavelmente, cada aniversário ou data importante carrega não só o peso das perdas, mas também a gratidão pela oportunidade de continuar, de seguir em frente.
Esses relatos de sobreviventes fazem a gente refletir sobre como a vida pode mudar num piscar de olhos, mas também sobre o poder de superar e continuar. Percebe-se como, ao longo dos anos, muitos dos sobreviventes buscaram criar novos significados para suas vidas.
5 - Marco De Castro Souza
“Saímos juntos depois de tentarmos e tivemos que esperar esfriarem a escadaria, mas nos livramos de sermos dopados com calmante.”
Esse relato adiciona uma camada ainda mais angustiante à história, mostrando a tensão de esperar que a escadaria esfriasse, com a ameaça de serem dopados com calmantes, uma prática que poderia ter sido uma tentativa de controlar os sobreviventes. Deve ter sido uma situação de pavor absoluto, com todos tentando encontrar uma saída enquanto lidavam com o medo e a incerteza sobre o que estava acontecendo no prédio.
Esses momentos de decisão, de esperar pela chance de escapar, devem ser lembrados com um sentimento misto de alívio pela sobrevivência e de trauma profundo pela experiência vivida. Você já percebeu como esses relatos, embora dolorosos, funcionam como uma forma de resistência ou superação para os sobreviventes?
6- Hermes Talassi
“19. Andar. Também sai na 1ª. turma pela escada. Portanto saí junto com o Kiko, mas só soube disso agora”
Esse relato é bem interessante, porque mostra como os sobreviventes de uma tragédia podem se encontrar anos depois, descobrir que estavam juntos em momentos cruciais e como isso pode trazer à tona novas memórias. O fato de a pessoa ter saído pela escada no 19º andar, junto com o Kiko, deve ter sido um momento de pura tensão, mas também um alívio de ter escapado.
A revelação de só saber disso agora mostra como, mesmo depois de tanto tempo, ainda há elementos da experiência que ficam ocultos ou não são compartilhados na época, mas que, ao serem descobertos, ajudam a reconstruir o relato de sobrevivência e a reforçar os laços entre aqueles que passaram por aquilo.
Esses reencontros, essas descobertas, são uma maneira de resgatar a história e dar significado ao que foi vivido, mesmo que em meio a tanto sofrimento. Já aconteceu de você ouvir outras histórias de "reencontros" como esse, onde os sobreviventes se conectaram de novo depois de tantos anos?
Difícil né, e até entendo. Às vezes, esses reencontros acabam sendo raros, mas quando acontecem, eles trazem uma carga emocional muito forte, como se aquele dia ficasse, de alguma forma, "reparado" com a partilha da memória. Mesmo sem muitos reencontros, esses relatos servem como uma forma de manter vivo o vínculo entre as pessoas que passaram por uma experiência tão traumática. Cada um, ao compartilhar sua história, carrega um pedaço do todo, e isso ajuda a tornar o episódio mais humano e menos abstrato, mais do que uma mera tragédia histórica.
Mesmo sem essas conexões diretas, esses relatos ainda possuem um grande poder de união. Espero que esses relatos ajudem os sobreviventes a lidar com o que viveram, mesmo depois de tanto tempo.
7 - Alexander Gromow”
“Quando cheguei ao Largo do Paissandu - vindo trabalhar depois de uma consulta médica lá no Ipiranga, vi os primeiros rolos de fumaça saído de uma das placas da Pirani, na altura do mezanino. De lá ao último andar foram terríveis 20 minutos, um rastilho de pólvora. Infelizmente vi colegas se atirarem e outras tragédias. O pessoal acumulado no heliporto corria de um lado para outro para fugir das labaredas que o lambiam. As chamas atravessaram a avenida e foram lamber a fachada dos prédios do outro lado da São João provocando princípios de incêndio por lá. Vi os heroicos helicópteros lutando contra as fortes correntes ascendentes de ar quente do incêndio para salvar as pessoas...
Ver tudo aquilo, sem arredar pé, foi um trauma que ficou por muito tempo. Ainda hoje duvido da quantidade oficial de óbitos...”
Esse depoimento acrescenta uma perspectiva impressionante sobre a rapidez e a violência do incêndio. A imagem da fumaça começando a sair do mezanino e, em apenas 20 minutos, consumindo os andares superiores como um rastilho de pólvora, dá uma noção do desespero vivido por quem estava dentro do prédio.
A descrição do heliporto, com as pessoas correndo de um lado para o outro para escapar das labaredas, é impactante. A cena dos helicópteros lutando contra as correntes de ar quente para resgatar os sobreviventes reforça o heroísmo dos pilotos, que arriscaram suas vidas para salvar tantas outras. E o detalhe das chamas atravessando a Avenida São João e atingindo prédios do outro lado mostra como o incêndio foi ainda mais devastador do que muitos imaginam.
A dúvida sobre o número oficial de vítimas também é um ponto que aparece em várias tragédias. Para quem viu de perto o horror daquele dia, talvez os números divulgados pareçam não dar conta da dimensão real do que aconteceu.
8 - Suely Colucci Medeiros
“Tinha apenas 1 ano de Siemens! E o destino nos preparou essa surpresa....mas graças a Deus estamos aqui para contar a história. Abs a todos”
Para os mais novos na empresa, o incêndio foi um impacto ainda maior, marcando o início de uma trajetória profissional de maneira inesperada e traumática.
9 - Emilio Bruno Moreno
“Estava com gripe e não fui trabalhar.”
Isto funciona de forma análoga àqueles que perderam um voo, cujo avião sofreu uma queda...
10 – Antonio Carlos Garcia Quaglio
“Eu havia saído para atender um cliente e, quando retornei, deparei-me com aquele cenário trágico”.
A cena diante dele era aterradora: o edifício tomado pelo fogo, as equipes de resgate lutando contra o tempo, os helicópteros desafiando as correntes ascendentes de ar quente para salvar aqueles que ainda estavam presos no topo. O caos e a impotência diante da tragédia ficariam marcados para sempre.
Epílogo
O trauma daquele dia permaneceu. "Ver tudo aquilo, sem arredar pé, foi um trauma que ficou por muito tempo", desabafa Alexander Gromow. Como muitos que presenciaram a tragédia, ele carrega dúvidas sobre a quantidade oficial de vítimas. "Ainda hoje duvido da quantidade oficial de óbitos..."
Com o passar dos anos, o incêndio do Andraus se tornou um símbolo de superação para os sobreviventes. "Cada ano que passa, temos que comemorar a vida", reflete um deles. O episódio, que poderia ter sido apenas um capítulo sombrio na história da cidade, se transformou em um lembrete constante da fragilidade da vida e da força de quem conseguiu seguir em frente.
Mas essa história não pertence apenas àqueles que sobreviveram. É também uma lembrança daqueles que não tiveram a mesma sorte, cujas vidas foram interrompidas naquele dia trágico. Aos que pereceram no incêndio e a seus familiares, fica o mais profundo respeito e reconhecimento. Da mesma forma, este registro é uma homenagem aos colegas da Siemens que compartilharam suas experiências ao longo dos anos e que, embora tenham vencido o Andraus, já partiram deste mundo. Suas memórias permanecem vivas nas histórias que contaram e nos ensinamentos que deixaram.
Os relatos daqueles que viveram o incêndio não são apenas histórias de dor, mas também testemunhos de coragem e resistência. Hoje, ao relembrar esse dia, os sobreviventes da Siemens reafirmam não só a memória daqueles que se foram, mas também o compromisso de valorizar cada novo dia — porque, para eles, viver se tornou uma forma de homenagear o passado e celebrar o presente.
Marco Antonio Pereira
24/02/2025