O MENINO E O TEMPO

Há muito tempo atrás havia um menino, um garoto apaixonado, tudo pra ele era novo. Não havia dor, nem preocupações, muito menos angústia e desespero. Sonhava com as conquistas, conquistas singelas, como ganhar no futebol, na bola de gude, conquistas fáceis. As reais conquistas da vida ele não se preocupava porque sabia que conquistaria tudo quando quisesse, como era nas suas brincadeiras cotidianas. Suas brigas duravam só um instante, minutos após tudo era perdão. A vida era leve, sutil, infinita. A morte, como nos quadrinhos, não existia. A escola era só diversão. Matemática? Pra quê? D. João? Nem conheço! Português? Já sei ler! Tudo era divertimento. O mundo real era sua realidade infantil. Mas o tempo passou. O tempo ele nem viu nem ouviu. O tempo foi passando sorrateiro.

Com o tempo aquela criança foi se transformando, as conquistas foram se tornando cada vez mais duras, seus adversários cada vez mais difíceis. As conquistas passaram a ser dele e de alguns. Cobravam dele! Exigiam dele! Sentia cada vez mais a necessidade de conquistar para mostrar que era capaz. Ele não podia decepcionar os que acreditava nele! Diziam que ele era capaz, e agora ele não estava sendo capaz. Ele pensava: O que vão pensar de mim? Serei só mais um? A angústia tomava conta do seu espírito. Trabalhar pra viver? isso era doloroso demais. O Tempo foi passando. Os sonhos foram se tornando cada vez mais sonhos. Os sorrisos foram se tornando cada vez mais raros. A morte cada vez mais real e por vezes desejável. Se perguntava a todo momento: Por que brincava na escola? Hoje preciso da matemática, da história e por vezes da geografia. Seu mundo real não era mais infantil, agora era adulto. Até que o menino desistiu e resolveu viver no mundo real, sem sonhos. Ele resolveu encarar a vida nua e crua, sem sorrir e sem sonhar, apenas trabalhar para sobreviver, e usar de subterfúgios para que o tempo passasse cada vez mais rápido, até que não passasse mais.

Leandro Moreira

04/01/2008