Áurea
Eu estava no quarto ano do 5o Grupo escolar. Estudávamos cedo, os meninos, e à tarde, as meninas, e todo dia eu ficava vendo elas entrarem na Escola, pois comecei a me interessar por uma menina muito bonita, com o cabelo em trança, chamada Áurea.
Eu a via todo dia, mas ela jamais olhou para mim. Depois que tiramos diploma e deixamos a Escola, eu vim a saber que ela havia mudado para São Paulo. Mesmo que nós nunca tenhamos conversado eu ia sentir muito a sua falta. E o tempo foi passando. Quando eu já havia me esquecido dela, ela veio a passeio na casa de uma tia sua, e foi passear na Rua Sales de Oliveira, na sede do Campinas FC, ponto de lazer dos moços da época, devíamos ter uns 15 anos.
Eu a vi muito mais bonita, já quase uma mulher. Mas ela não olhou para mim, e senti desmoronar um monte de sonhos, daquele amor platônico. Novamente ela se foi, deixando atrás de si muita saudade.
Passados uns 5 anos, estava eu na quermesse do Padre Guilherme, na Igreja de São José, distraído ouvindo pelo autofalante a valsa número 1 de Orlando Silva, uma música muito sentimental, quando fui despertado por um toque em meu braço. Era a Ivone, uma moça minha amiga desde os tempos do 5o Grupo, ela vinha me oferecer números de uma rifa para ajudar a igreja. Junto com ela havia uma outra moça, devia ter uns vinte anos, parecia muito triste e sofrida, e a beleza de seu rosto parecia estar indo embora precocemente.
Ai a Ivone me disse: “.... Você se lembra da Áurea que estudou conosco no 5o Grupo, ela voltou para morar novamente em Campinas..”. E como eu poderia esquecer a Áurea, não aquela que ali estava, tão diferente, tão mudada. Não mais existia aquela menina bonita, inocente, muito feminina. Então esta Áurea me olhou com muito interesse, até na hora de ir embora voltou a olhar-me, como a adivinhar que eu fui seu amor de infância, embora fosse um segredo que nunca revelei a ninguém.
Não levei a sério os seus olhares, porque vi que ali naquele dia, o destino havia virado uma página e encerrado aquele romance platônico que atravessou minha infância, entrou pela adolescência, e deixou algumas cicatrizes, como uma saudade e um coração infantil um pouco triste, feridas estas que logo foram curadas, pois eu sentia que o meu coração estava se preparando para um grande amor, sublime, puro, verdadeiro, que Deus ia nos unir e este amor seria para toda a eternidade.
Como uma homenagem a este amor de criança, fiz uma pequena poesia:
I
Você ia partir
Então eu pude sentir
A falta que você faria.
Você, menina de trança
Meu grande amor em criança
Que nunca tinha me olhado
Você era toda felicidade
Eu, no meu canto, calado
Preso de grande emoção,
Ia deixar muita saudade
Mas levou meu coração.
II
Mas um dia você voltou
Nem sequer para mim olhou
Você menina de trança
Meu grande amor em criança
Você voltou por maldade
Só veio verificar
Se podia aumentar
Num coração a saudade
III
Desta vez você voltou
Então para mim olhou
E vi como estava sofrida
Só que eu estava de partida
Você, menina de trança
Meu grande amor em criança
Reconheci, com sinceridade
E, também, emoção
Eu levava a saudade
E deixava o coração