PARA QUE SER POETA?

Era uma manhã tranquila, caminhando pela Avenida José Lins do Rego, em Pilar, na Paraíba, me debrucei sobre a enigmática questão: para que ser poeta? A indagação soava, aos meus ouvidos, como a voz de um narrador perspicaz, dotado de uma visão profunda e sutil do mundo que nos cerca.

Ser poeta, pensei, não era uma busca pela glória fugaz, tão efêmera quanto a brisa que acaricia as folhas das palmeiras imperiais da Praça João José Maroja. Tampouco era um mero entretenimento, como um passatempo ocioso dos que se entregam à escrita sem compromisso. Não, ser poeta era muito mais que isso. Era um ato intrínseco, quase fisiológico, como respirar o ar fresco das manhãs outonais.

Para que ser poeta? Tornava-me a perguntar. E a mim mesmo respondia: ser poeta é escrever não apenas um amontoado de palavras, mas ingressar numa missão silenciosa, num dever inalienável de transcrever os recônditos da alma humana. Ser poeta, não apenas para cantar o mundo com mais beleza, mas para buscar, nas coisas simples da vida, um mundo mais justo, mais belo e mais amoroso.

É preciso ser poeta. Mesmo que não entendamos o real significado deste exercício ou desta vocação que carregamos. Mesmo que não sejamos lidos e aplaudidos. Sim, mesmo que nossas palavras não ressoem nos corações alheios, a poesia mantém seu valor intrínseco.

Ser poeta é uma obrigação desobrigada, uma responsabilidade que se abraça com o coração. É encontrar, nas entrelinhas da existência, os versos que compõem a nossa própria humanidade. Precisamos ser poetas para viver a poesia, não apenas escrevê-la, e oferecer ao mundo uma nova perspectiva, ainda que esta seja percebida apenas pelo olhar atento e sensível de uma criança.

Assim, na quietude da minha reflexão, entendi que ser poeta é um destino inescapável para aqueles que, como eu, encontram na palavra escrita o caminho para a liberdade de pensamento e a razão para viver uma vida com propósito, despido de vanglória.