O extraordinário
Sinto que o amor tem uma relação tóxica comigo, pois abusa dos meus sentidos, faz-me cativa e brinca com as minhas emoções. Não controlo as batidas do meu coração, tampouco tenho poder sobre os desejos mais banais, e quando tomo conta de mim, é de você que eu preciso. Você me deixa zonza de vontades e pecados. Então, me dou conta do quanto o amor é manipulador e abusivo, porque se não for do jeito dele, será só uma paixão mal resolvida. O amor é visceral e autossuficiente, não necessita da lógica, só de reação química. Pouco se importa com a mente, que dirá com o corpo, o coração que se cuide. Mas há quem defenda-o e até mesmo aceite o conceito teórico. Tenho minhas impressões literárias sobre isso, e fico sensibilizada com a demanda reprimida por causa dele. A oferta é inelástica, principalmente hoje na era do caos, onde as relações tornaram-se líquidas. Acreditar num amor genuíno, fora do formato espiritual, exige deficiência de razão. Parece que tudo é perecível porque amar entrou na lista dos itens que tem validade, o que fragiliza ainda mais o sentir e encurta a longevidade do relacionar. Tudo está tão indefinido e improvável que duvido do físico, imagine do abstrato. O metafísico é o que me resta, pois quem tem fé vive o extraordinário.