A cara de neve, cara da noite, cara do dia com Maria
Calhou de abrir a porta da rua, pra expiar o movimento, sentir a passagem do vento, quando se viu, como a despertar daqueles entulhos, diga-se ferro velho do seu Narciso, conhecido como Piauí, uma gatinha esmirada, meio que acizentada, encardida, queimada, a cara de fome, de abandonada, humildemente coitada, que logo foi batizada, com o nome de Maria.
Sob um olhar caído, uns miados agredidos, como se o desespero fosse a raiz recebia o afeto e também comida. Que com certeza, pra ela era o que mais interessava.
No passar das noites - dias e chuvas, como a florescer, o que ela escondia se fez por ser, a curiosidade de saber, saber.Porque Maria, curiosamente pegava a comida e as traduzia a uns gatinhos, que ninguém sabia, se exista.
Com o tempo andando a frente , pela grade de ferro, entulho e a paciencia alheia surgiram os boatos de que ela havia dado cria.
Agora mais quem queria de fato ver...
E nada entrava ou saia daquele ferro velho.
Certa noite inspirada pelo solidarieda já com mais de duas semanas, meteu o bedelho um gatinho, tão bonitinho, que muitos o queriam...perguntava sempre:
- É macho ou fêmea?
Ninguém sabia dizer.
Até que na semana seguinte surgiu um pretinho, acompanhado de um outro preto e branco.
Eles rolavam no chão, subiam na areia da construção pra fazer suas nessecidades e mordia uns aos outros. Uma grata distração pra quem por ali passava. O cara de neve, o cara de noite e o cara do dia, junto com Maria era nossa alegria.
Brincavam, recebiam comida, mas afeto só dá Maria, que os paparicada.
Essa atração perdurou por quinze dias, quando sumiu sem se saber dizer o cara de neve e o cara de noite, que eram fêmeas.
Maria chorava, porque os amava, era incrivel a dedicacao daquele animal, que em muitos humanos fazia falta.
Já no terceiro dia do sumiço dos caras, sumiu também a cara de dia.
As pessoas que por ali passavam perguntavam:
- Onde estao o cara de noite, o cara de dia e o cara de neve?
O silencio e o misterio permaneciam. Corroborando apenas com o choro, intermitente, noite e dia, dia e noite da mãe,( Maria), que perdurou semanas, também a corroer os corações dali.
Tornando ainda mais popular, o cotejo lamento de Maria.