PARALELO ENTRE A CASA E A VIDA
"Paralelo entre a Casa e a Vida"
(Vento Lusitano)
No final de semana encontrava-me em leitura a um poema denominado “Casa Arrumada”, em que a autoria por alguns é endereçada a Carlos Drummond de Andrade, por outros a Lena Gino. Independentemente de quem seja o seu autor, a verdade é se trata de um lindo poema. Contando com a paciência do amigo leitor passo a transcrevê-lo: - “Casa Arrumada” - {Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz. Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas… Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança. Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto… Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos, filhos… Netos, pros vizinhos…E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente. Arrume a sua casa todos os dias… Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…E reconhecer nela o seu lugar.}
Pois bem! Uma vez concluída minha leitura, quase que instintivamente, meus olhos se voltaram a um quadro que se encontra fixado na parede da sala de minha casa, onde lá se encontra há muito tempo, que diz: “Não repare a bagunça, algumas coisas fora do lugar, aqui tem crianças e que de vez enquanto fazem umas loucurinhas.”
Confesso que há muito tempo os dizeres do referido quadro estão gravados em minha memória, e que tenho por ele muito carinho, pois me remete a boas recordações. Confesso ainda, e não sei explicar o porquê, no entanto, quando me apercebi, naquele momento, estava eu a lembrar de Pepe Mujica, ou José Alberto Mujica Cordano, ex-presidente o Uruguai. Mujica, sem se ater a outros fatores, é um inegável grande pensador, ele diz: - “A vida não é só trabalhar tem que deixar um bom capitulo para as “loucuras” que cada um tem.” A minha lembrança a ele surgiu, quem sabe, em razão que tanto o quadro quanto as palavras de Mujica, reportam-se as “loucurinhas da casa, às loucuras da vida”.
Quando estava em reflexão a tudo isso, fui surpreendido por minha esposa adentrando a sala, então lhe disse: - “Eu sei que nossa casa é maravilhosa, mas não está na hora de retirarmos este quadro da sala, nossos filhos não são mais crianças, são maiores e independentes. Então ela de forma serena e rindo respondeu: - “Sim, eu sei. Quanto aos nossos filhos você tem razão, no entanto, nós estamos a caminho de voltarmos a sermos crianças novamente, então as “loucurinhas” continuarão a acontecer nesta casa. Aí não teremos dificuldade em sermos compreendidos. Acrescentou ela ainda: - “Então é melhor o quadro permanecer onde está.” Em resposta também rindo lhe disse: - “Perfeito. Ratifico tua resposta.”¬
A verdade é que tanto em nossa casa quanto em nossa vida, não podemos levar as coisas tão a sério, pois como sabiamente disse Pepe Mujica: “Devemos deixar um bom capitulo para as “loucurinhas, loucuras” que cada um tem.”