CORAÇÃO DE GELO

Muitas pessoas, às vezes sem perceber, mas tantas outras por desejar isso ardentemente, de modo a ferir o mais profundo possível, nos fazem chorar e ficar tristes. Suas palavras e frases têm o poder maligno de magoar, e magoar com intensidade. Não raro, ferem de tal maneira que alcançam e perfuram até mesmo o recôndito dos sentimentos, ali provocando lenta e insuportável agonia. Somente um comentário brusco, uma indelicadeza quase despercebida do autor, mas lamentável e intensa para quem a sofre, mesmo aquele olhar de crítica mordaz, qualquer ato da espécie pode arrasar o cotidiano do ser humano sensível. Os autores de tais proposições negativas nem imaginam o mal que fazem ao seu igual, a ansiedade subseqüente do atingido por suas palavras maldosas, a momentânea depressão que vem e é capaz de transformar a alegria em copioso pranto. Que nada! A sensibilidade nem sempre é percebida por quem se compraz em desprezar e ser indiferente à mágoa do semelhante, ou talvez quando este a descobre em seu interlocutor ele se torna ainda mais ferino e contundente. A frieza impensada dessas criaturas guiadas pelo egoísmo do absurdo congela suas próprias almas e os faz capazes de lances e nuances tão frenéticos quanto são os dardos venenosos. Viver, para eles, é a proliferação de uma eterna galhofa e grandes e contínuas chacotas. São diretos, desrespeitosos, incisivos, sarcásticos e, tantas e tantas vezes, pejorativos. Nem parecem ter coração, ou, se o têm, este se transformou num volumoso bloco de gelo. Os outros são, sempre, o alvo de pesadas brincadeiras de mau gosto e de punhaladas em forma de paráfrases e trocadilhos sutis e grosseiros.

O mundo está repleto de gente desse naipe. Gente desumana que vê no seu próximo a imperdível oportunidade de manifestar sua verve irônica e pernóstica. A lata do lixo da vida humana está entupida dessa espécie, já transborda até. De todos nós elas merecem, apenas e simplesmente, compaixão, jamais o rancor, nunca o despeito e o ressentimento. Porque são inseguras, infantis e necessitam de auto-afirmação. Exibir-se, para elas, é sinônimo de status, se acham as tais, desejam ardentemente aparecer. Melhor não lhes dar ouvidos e deixa-las falando sozinhas, mostrando total indiferença à sua existência. Em sendo possível ajudá-las de alguma maneira objetivando transformá-las em mulheres e homens cidadãos de bem e cordatos, amantes da paz e da reconciliação, decerto é-nos prazeroso fazer isso. A convivência entre os seres racionais precisa ser permeada pelo respeito e a civilidade, porque afinal somos todos dignos dessas duas prerrogativas tão humanas. Não é factível imaginar, portanto, que a atitude leviana e mesquinha dos galhofeiros seja encarada como um comportamento inerente às pessoas. Viver não é, evidentemente, uma eterna brincadeira. Todos nós temos nossas responsabilidades conosco mesmos e com os demais, e o limite de nossa liberdade, como já bem sabemos, termina quando começa a dos nossos iguais. Ninguém tem o direito de ultrapassar essa tênue linha imaginária, porém pragmática. Caso o faça vêm os conflitos e, tantas vezes, as desgraças. Só pode haver harmonia quando existe boa vontade e compreensão de ambas as partes. A jornada da vida há que ser uma trajetória feliz e alegre. Por que torná-la sombria e tormentosa quando temos amplas condições de, em uníssono, vivê-la?

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 20/01/2008
Código do texto: T825025
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