Eu sonho!

Eu sonho!

Todo santo dia, deixo os medos em terra e levo os sonhos ao alto mar.

Adoro metáforas que remetam ao mar! Ironicamente, justo eu, que não sei nadar e nutro pavor de embarcar em qualquer coisa que prometa flutuar. De caiaques a transatlânticos, eu só enxergo duvidosas juras de que não irão impiedosamente ao fundo.

Mas os sonhos são o assunto aqui; não meu potencial e improvável afogamento.

Pode parecer estranho a muitos, porém, mesmo já tendo ultrapassado a barreira dos sessenta – falo dos anos e não de limites de velocidade – me permito as benesses de me extasiar nos inebriantes prazeres de sonhar com novos feitos, novas realizações...

... Indo onde nenhum homem jamais esteve... Não! Nesse trecho, parece que me deixei confundir com o discurso de abertura de “Jornada nas Estrelas”.

Eu imagino projetos! Afora reações involuntárias do metabolismo humano, ninguém produz nenhum ato sem que – mesmo que por um átimo de tempo - não tenha sido antes imaginado na mente. Aliás, com prática e alguma sorte, também acalentado pelo espírito.

Alguém perguntará: “Se a cada dia que passa a perspectiva de viver vislumbra um horizonte sempre menor em sua extensão, como manter o ânimo de projetar algo para o futuro?”

Ora! tudo depende de como se encara esta vida. Afinal, não é novidade que escape ao senso comum que há tempos de plantio e tempos de colheita. Quem planta só para si abandona o cultivo do que não espere colher. Quem planta para o mundo nunca abandona a certeza de que a colheita para alguém há de servir.

Que ninguém se engane! Sobre mim, não tenho só histórias de superação e sucesso para contar. Já falhei e já fali algumas vezes ao longo desta existência. Porém, a possibilidade de um indesejado fracasso dá sabor peculiar a qualquer empreitada, como a inevitável iminência da morte tempera o gosto e reforça o valor que se dá à vida.

Ocorre que vim ao mundo dotado de um inato estoicismo. Falar do que seja “estoico” complica a compreensão de quem não tenha um mínimo contato com os antigos gregos e suas inúmeras escolas filosóficas.

Melhor dizer que a resiliência me define. Esse termo parece mais adequado, ao menos nestes tempos em que a velha e antiga filosofia foi requentada e vestida com novas roupagens mais atraentes, somente para poder ser vendida como um “produto” por quem mercantiliza “inteligência emocional” ou “neurolinguística” ou “autoajuda”.

Não tenho nenhum segredo mirabolante para contar. Simplesmente, vivo um dia de cada vez, com a certeza de que passado e futuro são tempos imaginários, pois só no presente se “realiza” algo e só nele se “sente” algo.

O passado é fonte para consulta e aprendizado e de onde se pescam as saudades boas de serem acalentadas, já que as que só fazem doer devem ser sumariamente descartadas. O futuro é o marco das metas que se imagina ou se deseja, tal qual o “destino” é informado ao aplicativo com “GPS” para uma sugestão de trajeto.

Porém, é preciso escolher do que se quer lembrar e onde se espera chegar. O melhor da viagem é percorrer o caminho e por isso eu não detenho meus passos – por claudicantes que sejam – e jamais desisto de seguir em frente, sempre atento ao ambiente à minha volta no instante presente que é, enfim, o que alimenta a esperança.