O Último verso

Não lembro ao certo,  quando falei com o Antônio,  mas ao vê-lo passar na rua disse-lhe:

-Tô na luta aqui. E como está o Afonsinho?... essa semana vou revisitá-lo.

E ele, com todo seu bom humor, cheio de risos e educação, que lhe é peculiar me respondeu:

- Robertinho o Afonso vai sair essa semana.

Falei então:

- Vou lá na sexta...vou cedo, pois gosto de ficar bastante tempo, até ser expulso.

Ambos rimos,  porquê o Antônio externou- me o mesmo pensar:

- Robertinho,  eu também.  Pra mim se não for expulso, não presta.

Passaram os dias e a sexta-feira chegou. Lá pelas nove e pouca, quando já estava terminando as minhas missões em casa. Já me preparando pra ir a Beneficiente, uma notícia chegou no grupo de watsap, qual o Pilão externou a mim,  o seu  lamentar pelo falecimento do Afonso.

Me assentei diante da mesa da sala e por uns segundos degustei a dor da perda...

Fiquei a lembrar do Afonso, do tempo,  que juntos dividimos vários momentos. Ora brincando,  ora executando tarefas ou mesmo procurando mudar a realidade da rua. E fui sendo corroído pela sensação de não ter conseguido ir vê-lo outra vez.

Tão certo, como o nascer do dia, me veio a certeza de nossa eternidade pueril.

A perda de pessoas queridas lembra da saudade, que a falta nos causa. Não pelo egoísmo , mas pelo sentimento,  que nos referenda a um grande amigo, um irmão,  um homem  de valor...Um exemplo de pessoa  e diria, mesmo sem publicação nos jornais,  uma celebridade  das nossas ruas, que até pouco tempo, como um pássaro da vida,  publicava humildade, alegria, amor e felicidade em nosso grupo com versos e poesias.

De fato,  como disse o Antônio,  na última conversa,  ele teve alta. Um guerreiro, um guerreiro,  que lutou e lutou, mais ou menos oito anos e saiu da vida pra descansar das suas dores na via da morte. Pautando em nossos corações sua última poesia...

A saudade.