A Grande Cheia de 1985

O rio Paraíba, após três anos de seca, exibia novamente suas águas enfurecidas. O leito, antes tranquilo, agora transbordava suas margens inexistentes, levando tudo em seu caminho. O céu, pintado com nuvens espessas e escuras, desintegrava-se em relâmpagos e trovões, anunciando a catástrofe que se aproximava.

Na vizinha cidade de Itabaiana, as primeiras consequências da cheia já estava sendo anunciada. Chegava de lá a notícia de que o rio já havia invadido as ruas da Saboaria e da Tatajuba. Era um quadro desolador, onde até os mais firmes sentiam o peso do desespero. As águas insistentes dançavam em uma valsa de desastre iminente. A chuva, obstinada, não cessava.

E o Paraíba, indócil, subia seus níveis a cada minuto, ameaçando engolir a ponte de Pilar. A prefeitura, num ato de emergência, ordenou a evacuação imediata das famílias da Rua do Rio. Caminhões foram despachados para transportar os moradores para as áreas mais altas da cidade. As águas, com seu rugido ensurdecedor, já lambiam a ponte, e não havia tempo a perder. A Rua do Rio, em um piscar de olhos, cedera às ondas; casas da Maloca e da Rua do Rio eram arrastadas pela fúria da correnteza implacável.

O centro da cidade, usualmente seguro e protegido, sucumbia à força do rio. A enchente do Paraíba, impiedosa, invadia e se espalhava pela cidade baixa. Em meio ao caos, uma figura se distinguia: o prefeito José Benício, atando uma corda em uma árvore e firmando a outra ponta em sua cintura, lançou-se nas águas traiçoeiras, resgatando aqueles que se afogavam. Nascia, ali, um herói, que posteriormente se tornaria um dos maiores líderes político da terra de José Lins do Rego.

À noite, um estrondo aterrorizante ecoou por toda a cidade: a ponte de Pilar, vencida pela força das águas, foi arrancada de seu lugar. O trágico ano de 1985 se cravava na memória coletiva como o período da maior cheia do Rio Paraíba, deixando um rastro de devastação material e perda de vidas. Mas, na lembrança, também ficaria a resiliência e bravura de um povo que, diante da fúria incontrolável da natureza, persistiu, manteve-se unido, e enfrentou a tempestade com uma dignidade que só os corajosos possuem.

O Rio Paraíba, agora um vasto mar de águas inquietas, parecia indicar um novo tempo, transformando a paisagem, os rostos e até os destinos dos habitantes de Pilar. Com sua memória líquida, o rio carregaria histórias de resistência, coragem e união. Assim, a épica cheia de 1985 se tornou mais do que uma tragédia; transformou-se em uma saga de bravura e determinação, perpetuando-se como uma crônica viva no coração de seu povo.