Medo do Fogo
Sábado, 18 de janeiro de 2025, os termômetros passam de 33 graus, o calor é intenso e a chuva não cai a dias.
Um final de semana propício para quem pode sair e aproveitar praias, rios e lugares distantes do asfalto. Mas nem todos têm as mesmas possibilidades, e encontram sempre alguma coisa para fazer no sábado.
Eu por exemplo já tenho como hábito. As manhãs do meu sábado normalmente são destinadas a cuidar das minhas plantas.
Podar alguns galhos, trocar ou repor terra em meus vasos, limpar o pátio, plantar uma nova muda de flor, porque já não tenho espaço para árvores grandes, tirar os capins que proliferam em meio às plantas mesmo com a falta de chuva. E esse sábado não foi diferente, exceto por uma ocorrência bem preocupante e desagradável.
Na metade da manhã me desloquei até um mercado do bairro Viver Bem onde eu moro, para quem não sabe, é um conjunto habitacional onde a maioria das casas são coladas umas às outras, as que não são, que é o caso da minha, são divididas apenas por cercas ou muros que nós construímos. Ao voltar percebi uma imensa nuvem de fumaça escura no terreno que fica atrás do conjunto habitacional, algumas casas abaixo da minha, ali já senti uma pontinha de preocupação.
Segui com meu trabalho, fiz novas mudas de flores, podei as folhas velhas e amarrei algumas orquídeas no pé de três marias que ficam em frente a casa, indispensável para nós, nestes dias escaldantes de verão.
Logo, separei o lixo orgânico e fui depositá-lo na composteira que fica nos fundos. Quando chego vejo meu vizinho descendo o barranco apavorado com as chamas que estavam se alastrando e chegando próximo às nossas casas. Então me aproximei do muro e vi uma labareda enorme que atingia uma árvore atrás da casa que fica ao lado da minha, entrei em desespero. Vi algumas pessoas que foram olhar saindo do meio das árvores e reagindo como se nada estivesse acontecendo. Enquanto eu ligava para os bombeiros o fogo já estava atrás do meu muro. Já era quase uma da tarde, eu estava sozinha e apavorada. Peguei uma cadeira e um balde com água, mas não conseguia alcançar as chamas. Os bombeiros atenderam uma outra ocorrência mas estavam por chegar.
Quando percebi que as chamas estavam se aproximando cada vez mais peguei a mangueira para tentar detê-las, foi quando meu marido chegou do trabalho e percebeu a gravidade da situação. Com as labaredas já bem próximas do nosso muro conseguimos apagar algumas jogando água com baldes e outras que se aproximavam ainda mais, nossa mangueira conseguiu alcançar. Os bombeiros já tinham chegado e estavam mais abaixo apagando o fogo. Foi uma situação muito aterrorizante e preocupante.
É tão perceptível que as pessoas não mudam mediante as tragédias. No mesmo período do ano de 2024 aconteceu uma situação parecida, a única diferença é que o fogo estava um pouco mais distante. Eu fiquei abalada e pensando, na semana que antecedeu este sábado havia muito vento, se estivesse ocorrido no dia de hoje, não teríamos tempo para combater as chamas.
Lamentável? Não sei se é a palavra certa. Vivemos em uma era de tragédias naturais causadas por nós mesmos e nada aprendemos. Seguimos negando a necessidade de mudança. Negligenciamos fatos verídicos sobre o clima e expomos nossa estupidez, com a garantia de que teremos milhões de curtidas nas redes sociais.
Enquanto as curtidas vão aumentando, as tragédias vão se acumulando.
Atear fogo em lixo ou terreno baldio em dia de intenso calor, onde o solo está seco, há galhos e folhas no chão que caíram mortas pela falta de água, há lixos que não deveriam estar ali mas estão, para que, chamar atenção?
Deve estar satisfeito, pois realmente chamou atenção, para sua estupidez e falta de noção.
Eu tive medo sim, pelos vizinhos, meus bichos, minhas árvores e meu jardim. Tudo acabou bem, enfim. Mas um dia pode não ser assim, a minha consciência só responde por mim.
A pior pobreza do ser humano não está na situação financeira, mas na sua falta de empatia, de educação e de respeito.
Se colocar no lugar do outro, educação para dar exemplo, respeito pelas pessoas e a natureza ao seu redor. Se agora está ruim, se continuar assim, amanhã pode ser pior.