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Ando fugindo de notícias como o diabo foge da cruz. Percebi, há algum tempo, como essas manchetes me afetam. Principalmente porque o jornalismo tende a exagerar, repetindo incessantemente as tragédias, criando um negativismo quase inevitável.

 

O incêndio em Los Angeles, por exemplo, foi devastador. Mas, talvez mais devastador, seja assistir às cenas repetidas de pessoas chorando diante das câmaras, mostrando a perda de suas casas e memórias. A dor é palpável, mas a repetição transforma a tragédia em espetáculo. Não diminuo o sofrimento dessas pessoas. Imagino-me diante da TV, vendo minha casa consumida pelo fogo — deve ser uma dor insuportável!

Ainda me recordo de um alagamento no Brasil. Um homem estava com água até a cintura, olhando sua casa quase submersa. Um jornalista se aproximou e, com um microfone em punho, perguntou: "O que o senhor sente vendo sua casa assim?". O olhar e o silêncio daquele homem foi mais eloqüente do que qualquer palavra poderia ser. A cena ficou gravada em mim.

 

Estou exausta de sensacionalismo. Isso também se aplica às doenças. Doenças de artistas são exploradas pela mídia, expondo suas fragilidades humanas; capitalizar o sofrimento alheio para prender a atenção do público é um abuso da confiança que depositamos no jornalismo. Embora humanizar celebridades possa aproximá-las do público, usar isso para vender um drama é tao explorador!

 

E nós, como consumidores, somos parte desse ciclo – e eu, uma delas. Sempre haverá quem compre aquele creme que promete rejuvenescimento instantâneo. Fotos de "antes e depois", manipuladas ao extremo, alimentam ilusões que sustentam essa indústria de falsas esperanças. 

 

Mas é possível resistir. Não dar audiência a conteúdos sensacionalistas é um gesto que, embora pequeno, pode desencadear mudanças significativas.

Escolher o respeito acima do espetáculo. Talvez, com o tempo, o silêncio de quem rejeita esse ciclo fale mais alto do que as vozes que exploram nao so a dor humana, mas o apelo ao consumismo.

 

Neste ano de 2025, estou seriamente  repensando os meus cliques.  

 

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 15/01/2025
Reeditado em 15/01/2025
Código do texto: T8242118
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