Um bigu para Carrapichel
A Rio - Bahia era ainda praticamente carroçável e só se encontrava o primeiro palmo de asfalto quando entrava no Estado do Rio. Naqueles idos de sessenta, eu viajava do Piauí a São Paulo, com meu caminhão Chevrolet 1961, novinho em folha. Dava pena botar um carro novo numa estrada tão velha... Depois de vencer um atoleiro após outro, entrei na Bahia e parei o caminhão num desses postos de gasolina que oferecem combustível para (re) abastecer o tanque do caminhão e do motorista. Quando já estava na cabine para (re) tomar a estrada, um garoto subiu no estribo e me perguntou:
- Moço, você pode me dar um bigu até Carrapichel?
- É você sozinho, perguntei-lhe.
- É, é só eu e um boca-pio!
- Se esse boca-pio não morder, pode subir.
O garoto passou a mão num surranico de palha e subiu na carga.
Fiz outras viagens pelo Brasil afora, até pagar todas as prestações do caminhão trabalhando para quatro: pra mim, pra meu sócio, para o banco que emprestou o dinheiro e para o caminhão que bebia de gasolina o lucro quase todo.
SILVA, Francisco de Assis; LIMA,Adalberto. O Brasil nosso de cada dia.