Morte de um amigo:
Estamos há algum tempo longe do Cláudio. Dizer que foi um dos maiores amigos que tive é falar o óbvio. Que foi o melhor chefe em 35 anos de trabalho, idem.
Quando meu primeiro filho tinha dez anos foi aprender um pouco da vida num grupo de escoteiros. A chefa, akelá (chefe da Alcateia que é o lobo mais velho a quem todos os outros lobos devem respeito) é irmã do Cláudio. O laço de afinidades só aumentou.
Lembro que sua alcunha entre nós, infelizmente apagada com o passar do tempo, era Enciclopédia. Sabia tudo de futebol.
Além disso, tratava a bola com uma elegância sem igual.
Conversávamos sempre antes das partidas de dominó. Os assuntos diversificavam bastante: trabalho, futebol, bares, dominó e música. Tocando em música, desculpem o trocadilho, nas minhas Bodas de Prata, o Cláudio alegrou os convidados com sua voz agradável. Fazia o mesmo nas festas de final de ano de nossa turma.
Ultimamente escutava-o bastante sobre os acontecimentos que o preocupavam: seu filho. Eu ouvia e falava pouco. Só podia dizer que o rapaz melhoraria. Sentia que andava muito triste, mas pouco deixava transparecer.
Fiquei muito aborrecido em não me despedir no último dia que esteve entre nós. Segundo nosso amigo Sá Brito:
“Perdemos o companheiro mais afável de nosso convívio semanal.
Perdemos o nosso gentleman, esse exemplo cada vez mais raro de indivíduo que transborda educação. Perdemos o homem de fino trato, sempre atento aos demais, sempre preocupado com os outros.
Perdemos o amigo generoso. Perdemos o companheiro do gesto afetivo, da fala mansa, do sorriso simpático. Perdemos aquele que jamais foi brusco, rude ou grosseiro com quer que seja. Perdemos o que extravasava gentileza, o que vertia delicadeza por todos os poros. Perdemos. Perdemos muito.
Perdemos a chance de revê-lo toda quarta-feira, subindo lentamente a rampa que nos conduz ao espaço onde nos divertimos com o jogo de dominó. Perdemos o aperto de mão seguido de uma leve curvatura do tronco, típica de quem reverencia e respeita.
Perdemos a calma no jogo, estivesse vencendo ou não.
Perdemos a modéstia de quem jamais arrogou qualquer conhecimento ou habilidade maior do que os outros. Perdemos a humildade de quem sempre enfatizava que pouco sabia jogar.
Perdemos, sem dúvida, um dos melhores parceiros. Perdemos.
Perdemos muito nesta semana. Perdemos todos”.
Ganhamos o exemplo a seguir. Tentaremos tratar as pessoas como ele tratava. Sorriremos com mais simpatia. A beleza da vida está em tratá-la com graça e delicadeza. Isso também ele nos ensinou. Se tivermos a metade da elegância que ele possuía ao cumprimentar as pessoas sairemos no lucro e com crédito para com os amigos. Muito ainda temos que aprender com o que ele deixou: ficar calmos nas disputas, sermos modestos, mesmo estando entre os três melhores.
Como escreveu Martinho da Vila:
“Morrer é descansar. Não se deve ter medo da morte porque só é concebível o temor de uma coisa ruim que pode acontecer e morrer não é uma coisa possível, é certa. Dependendo das nossas ações aqui na Terra a morte pode ser a felicidade que se procura em vida”.
Trabalhastes muito e descansastes. Cláudio foi sem medo.
Deixastes muitas pessoas tristes, mas felizes por poderem dizer: Eu fui um amigo do Cláudio.
24/03/2013
Aroldo Arão de Medeiros