DAS FORMIGAS ÀS ESTRELAS
Acontece neste sábado, 11 de janeiro, o Encontro dos Profetas da Chuva, em Quixadá, Sertão Central Cearense. É a vigésima nona vez que esses videntes do tempo se reúnem anualmente naquela cidade icônica e exótica, povoada de gigantescas pedras solitárias.
Mais apropriado seria chamá-los analistas do tempo, a partir da observação direta da natureza e das características da nossa fauna e da nossa flora. Os métodos empregados em suas análises e previsões vêm de tempos muito antigos e são retransmitidos oralmente de geração a geração.
Eu tenho, intimamente, um quê de admiração por esse trabalho voluntário e, digamos, instintivo, realizado pelos nossos Profetas da Chuva. E tenho inteira razão, de modo pessoal, para devotar-lhes respeito e louvores. Meu pai, sertanejo dos mais genuínos, foi também um Profeta da Chuva.
Olhando para a terra, ele sabia fazer a leitura do livro da natureza, observando o comportamento das aves, das plantas, dos répteis e dos insetos, incluindo as formigas, e desde já estimar as benesses ou agravos do clima.
Olhando para o céu, ele mapeava mentalmente a posição dos astros, em especial, da poética estrela d’alva, que na astronomia não é outra coisa senão o planeta Vênus. Aprendi com ele que, se no período das chuvas no Ceará, Vênus encontra-se do lado que nasce o Sol, os prognósticos não são dos melhores. Caso contrário, encontrando-se no lado que o Sol se põe, as previsões são animadoras. A Lua crescente de janeiro, com as hastes viradas para o norte, também é indicativo de ano bom de chuva.
Entre os insetos, as formigas são as vedetes nas observações do sertanejo. Um formigueiro migrando da margem ou leito do rio para ribanceira está informando que virá chuva em breve. Esta observação matuta, por sua vez, deve encontrar amparo científico na obra do escritor Isaac Asimov. Segundo ele, em seu livro Escolha a catástrofe, ao contrário de nós humanos, os animais não perderam o contato íntimo com a terra, sendo capazes, portanto, de pressentir as mudanças mais sutis no clima.
Dentro de uma ampla faixa de eventos que envolve observação acurada, crendice, folclore, experiência, tradição, sapiência e até visões oníricas, a sondagem do clima feita pelo sertanejo é de um valor empírico e intuitivo adorável. E ainda de uma engenhosidade espetacular – que o ateste a experiência das “pedras de sal”, feita em dezembro do ano anterior. Esses oráculos rústicos que rastreiam a natureza, desde um simples formigueiro aos astros, usando tão-somente os sentidos, são, sem sombra de dúvida, merecedores, sempre, da nossa plena admiração e, também, da nossa incondicional credibilidade.