Eu, Um Suicida Em Potencial
Antes de atentar contra a própria vida um suicida em potencial não demonstra o que ele está sentindo no seu cerne.
As pessoas que o rodeiam, normalmente, tem uma visão boa dele (a), tanto que seus familiares, amigos, colegas de escola e trabalho costumam o classificar, entre outros adjetivos, como pessoa boa, honesta, carismático, de pouco falar, estudioso, antissocial, cheios de sonhos e planos para a vida.
Mas por outro lado, sem saber, essas mesmas pessoas que fazem parte da rede social desse kamikaze oculto, não percebem/sentem que algo de ruim está se passando com ele (a) porque esse indivíduo não se abre com ninguém, mas com ninguém mesmo.
Ninguém compreende que a cara de paisagem que o indivíduo faz ou fato dele estar indo para a escola/trabalho/igreja/faculdade nada tem a ver com o que ele sente no fundo da sua alma. A maior parte dos sujeitos não levam em conta que a violência é o principal motivo para uma pessoa ceifar a própria vida.
E quando falamos em violência, a grande massa, automaticamente, logo pensa na violência como aquela que ela está acostumada a ver na televisão ou na internet, exemplos: -Matar, roubar, furtar, cometer estelionato, estuprar, atropelar alguém, traficar, torturar, praticar atos de corrupção e assim por diante. Ou seja, colocando de forma casual e mais didática, o pensamento coletivo pressupõe que violência é o uso deliberado da força física e ameaças que pode resultar em traumatismos, danos psicológicos, problemas de desenvolvimento ou até morte.
Bem, a definição casual acima está corretíssima mas o entendimento popular não, que acha que para ser violência tem que machucar, doer, sentir medo, quebrar osso, sair sangue. A coisa não é bem assim, tanto que no final desse texto vou deixar um link mostrando quais são os tipos de violência existente para quem quiser consultar. Mas para quem não quiser perder tempo, posso adiantar que, os quinze tipos de violência citado no artigo em questão se convergem em apenas dois:- Violência física (o) e violência de danos psicológicos e emocionais. Esses dois tipos de violência podem atuar juntas ou separadas, isso dependerá da circunstância e da ocasião.
Dos dois tipos de violência referido, ambas terríveis, a que vou usar para dar continuidade neste singelo texto é a violência que causa danos psicológicos e emocionais, que por falar nela, quando comentei no quarto parágrafo que a violência é o principal motivo para uma pessoa ceifar a própria vida, era justamente dela que eu estava falando.
Este tipo de violência que está incrustada até nos ossos nesta sociedade insana e doente que todos fazemos parte passa a ser o estopim de tudo o que virá a seguir.
O preconceito e a intolerância exacerbada e indiscriminada da própria família, da rede social do cidadão(ã), da sociedade e do sistema educacional/político/religioso/cultural corrosivo, gradativamente, alimenta e aumenta o sofrimento emocional/psicológico/mental/espiritual do suicida que, por dificuldades adversas a ele não consegue equacionar de forma racional e matura os problemas que lhe afligem, contrário as pessoas minimamente equilibradas conseguem fazer.
Não para por aqui. Muitas vezes a relação íntima que o suicida em potencial tem com Deus, através dos pensamentos excessivamente negativos que lhe surgem acaba em intriga e fim de relacionamento espiritual (não que a descrença seja motivo para alguém tirar a vida, longe disso, ela pode ser um sinal de que algo não anda bem com determinada pessoa). A opressão, a colonização do indivíduo, a usurpação de direitos individuais fomenta o ódio voraz que o suicida está sentindo de si mesmo e pelo mundo que o cerca. O orgulho, o egoismo, a vaidade dessa sociedade hipócrita, incoerente e que tem o dom de estragar os outros acaba com o resto de brilho e estima da pessoa daquele que está planejando se matar.
Os discursos de sejam mais gentis uns com os outros, amai-vos uns aos outros, se respeitem mais, ajudem mais, respeite as liberdades civis (liberdade religiosa/não religiosa, liberdade de expressão, liberdade de pensamento, liberdade de associação) acaba virando uma recomendação numa carta de despedida que será deixada pelo suicida, não justificando, mas explicando os motivos de ter tirado a própria vida.
Há um porém nisto tudo. Carta de despedida nenhuma, por mais chocante que seja, em plena Era da Inteligência Artificial que vivemos parece ser capaz de mudar o fato de que muitos suicídios na infância, na adolescência e vida adulta acontecem e continuarão acontecendo porque a família, a sociedade e o Estado não consegue assegurar a esses, com absoluta prioridade o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, bem como colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão — como assim recomenda o artigo 227 da nossa tão amada Constituição da República Federativa do Brasil.
Em tempo: Num futuro bem próximo, pretendo escrever um texto fazendo alusão a uma carta de Despedida de um suicida. Aguardem.
Para consultar: Tipos de violência
https://br.psicologia-online.com/tipos-de-violencia-448.html