Crônica de Boas Festas

Dia 1 de janeiro é um dia muito festejado por todos, sempre foi assim, lembro nesta crônica que, em 1 do ano de 1944 eu e o Wilson Gazoti, que era um dos meus melhores amigos, saímos juntos a pedir ou desejar Boas Festas.

Depois de bater em várias casas das vizinhanças, e sermos bem recebidos, ganhando em cada casa algumas moedas, devo esclarecer que nós começávamos as visitas depois da meia-noite, resolvemos ir mais longe. Andamos um pedaço da Sales de Oliveira, Pereira Lima e íamos voltar pela Bueno de Miranda, quando lembramos que aquele território pertencia ao Hilário Pescocinho e ao Celso Louquinho, dois garotos maus que pareciam ter nascido grandes. Batiam e tomavam tudo o que os garotos tinham nos bolsos: figurinhas, bolinhas de vidro, estilingue, e até dinheiro. Mas nós continuamos a nossa caminhada esperando não encontrá-los no caminho. Então, vimos luz em uma casa da Bueno de Miranda e batemos. Nos recebeu uma senhora de cabelos grisalhos, muito bondosa, que pediu que nós entrássemos na sala, e disse que todos da casa já estavam dormindo e que ela iria arrumar as coisas que estavam na mesa, visto que eles tinham participado de uma ceia. Sentamos nas cadeiras que ela nos ofereceu e nos serviu um belo prato com frango assado, maionese, coxinhas, pastel, pão doce, que deve ser o primo pré-histórico do panetone, nos deu um pouco de champanhe, que eu nunca tinha provado. Ela nos disse: “..fiquem à vontade que eu vou arrumando as coisas”.

Quando terminamos e íamos agradecer, ela ainda nos deu 500 réis para cada um e disse: “...como gostaria que meu neto, Celso, fosse bem comportado como vocês. Ele vive brigando com todos os meninos, e já foi ameaçado de ser expulso da escola, já chegaram a lhe pôr o apelido de Celso Louquinho. Ainda bem que nestes dias eu estou sossegada, pois ele e o Hilário estão passando uns dias em uma fazenda, perto de Poços de Caldas..”. Perguntei se eles eram parentes e a senhora respondeu que não. O que talvez os aproximava devia ser o gosto de fazer coisas erradas.

Partimos então, sabendo que o caminho estava livre, livre do Celso com seus óculos que pareciam feitos de biscoito polvilho e do Hilário, com seu pescoço torto parecendo um anzol.

Às vezes eu fico pensando, será que eles não eram maldosos porque sabiam que os outros caçoavam deles?

Laércio
Enviado por Laércio em 19/01/2008
Código do texto: T823692