Vocês já prestaram bem atenção ao primeiro dia do ano? O dia amanhece e, lá fora, um silêncio sepulcral. É como se o mundo tivesse prendido a respiração até o dia 31, e no dia 1º tivesse expirado de forma total e absoluta, tentando apagar os momentos ruins do ano que finda e esperando por bons momentos no ano que inicia.
Ao mesmo tempo, quando, de manhã, ligo meu computador, tenho sempre aquela impressão de que os jornais se fixam nas tragédias. Parece que os jornalistas, nesse dia, ficam à caça de notícias trágicas: ou um avião que caiu, ou um tiroteio que houve em algum lugar, ou um artista que morreu. Ou daquele vidente famoso que fez premonições para o proximo ano - e uma delas seria a de que um artista famoso iria morrer. Poupem me! Até eu poderia adivinhar essa.
O tempo continua inconstante em todo lugar do mundo. Ouve-se falar no desmatamento, no aquecimento global, no efeito estufa, no degelo do Artico. Tudo assusta. O “Homem do Tempo” fica confuso – se ele não conseguia acertar antes, imagine agora! Estamos com uma promessa de uma tempestade de neve aqui em Cincinnati que, a cada dia, é postergada, e hoje parece que ela vem. Será? Quando eles anunciam a tempestade, os supermercados lotam, todos querendo “suprir” a geladeira, devido ao medo de passar fome. Lembram daquele sentimento da pandemia, das prateleiras vazias? Um pânico coletivo.
Outro dia, estava lendo que, quando anunciam as tempestades, os primeiros produtos a desaparecerem das prateleiras nos EUA são pão, leite e ovos. O leite, principalmente. Talvez porque sejam ingredientes perfeitos e necessários para fazer o pão, que é um alimento de conforto. Pão tem o poder de alimentar a alma, assim como a esperança aquece o coração diante do incerto. Lembram na pandemia quantas pessoas aprenderam a fazer pão em casa? Eu mesma me tornei uma expert.
O americano tem uma forte cultura de estar superpreparado para as emergências, além de ser campeão no planejamento prático. Noto que, no Brasil, tudo é mais espontâneo, à base do improviso. O brasileiro parece que tira tudo de letra pela diferenca da inteligencia emocional. Fico imaginando se, no Brasil, houvesse essas tempestades de neve, como o brasileiro agiria: com certeza iriam trazer à tona sua espontaneidade, calor humano e criatividade, mesmo diante das adversidades.
Bom, mas voltando ao primeiro do ano. Sempre dentro de mim sinto um medo inexplicável. O fim do ciclo significa repensar, e a virada, novos começos. Mas também, a incerteza. Um lembrete da finitude da vida. No entanto, devemos pensar que o medo do desconhecido é o sinal de que estamos vivos, prontos para enfrentar o que vier e aprender a cada passo. Já tenho dois papeizinhos dentro da minha "Jarra da Gratidão".
O cheiro do primeiro dia do ano é como cheiro de chuva em terra seca, de roupa recém-lavada no sol. Cheiro de flor. É o cheiro do recomeço, um perfume que mistura as dores do que passou com a doçura do que ainda pode ser.
Cheiro de uma vela apagada, que não significa fim, mas pausa. Uma pausa para respirar, refletir e lembrar que há sempre outra chama à espera de ser acesa.
Cada recomeço é um convite para reacender o que parecia perdido, trazendo luz aos cantos mais escuros da alma.
E ao terminar esse escrito, a tempestade esta chegando...
E chegou...
O reflexo de luzes na mesinha la fora, é da arvore de natal que ainda esta acesa.... Atras da mesinha, as cadeiras de verao cobertas...