Apertamento
O anúncio dizia que era uma quitinete, mas aquilo não era tão grande quanto uma. Na verdade, comparada com aquele cômodo, uma quitinete pareceria mais um apartamento de luxo. Mas eu precisava mudar rápido e tinha pouco dinheiro, ia ter que servir. “A pressa é inimiga da perfeição”. Eu não queria ter pressa, fui obrigado a ter, nem queria nada perfeito, mas aquilo era imperfeito demais.
Quando a situação está insustentável, a convivência está impossível, é melhor mudar. Mudar tudo: a cabeça, a forma de agir e reagir, as pessoas, a mobília, a decoração, o ambiente, os ares, em resumo, TUDO. Não queria mais aquilo tudo que me cercava, me apertava e me limitava. Um espaço só meu, por menor que fosse, não me daria tanta claustrofobia. Mesmo tendo pouco espaço para o ar, ele seria mais puro. Por não caber muita coisa, não teria decoração e nem muita mobília, só o básico, bem minimalista, mas, o mais importante, sem ninguém para dizer como, onde, quando ou porque. Só eu morando ali. Ali e na minha mente.
Aquilo não era uma quitinete, era só um quarto, uma suíte. A porta de entrada não abria por completo, ela batia na cama, e eu, que estou acima do peso, tinha que entrar de lado. Já continuava nessa posição para passar no espaço entre a cama e a única parede na qual ela não estava encostada. Assim, eu chegava num ponto no qual já conseguia sentar, com os joelhos encostando na parede. Se continuasse andando, chegaria ao banheiro: uma privada, um chuveiro, quase em cima dela, e uma mini pia, sem porta. Na outra parede, uma prateleira onde eu deixava, ao lado das minhas roupas, um fogareiro elétrico e uma panela, o suficiente para preparar um miojo e cozinhar uns ovos. Um pouco acima da cabeceira da cama, um basculante bem pequenininho era o meu “ar condicionado”. O vento soprava a cortina na minha cara o tempo todo, precisei comprar uma nova, sou alérgico a mofo.
A minha cabeça também estava mais ou menos assim, parecendo bastante com esse quartinho. Mas, aos poucos, passou a parecer mais com uma quitinete, depois com um apartamento normal e, quando me dei conta, já era uma cobertura de frente para a praia. Eu estava pensando nisso enquanto folheava um jornal. Quando cheguei nos classificados, li um anúncio que dizia: “Você se sente só? Saia da solidão…”. Nem acabei de ler, cortei aquele quadradinho com a mão mesmo, deixando um buraco no jornal, piquei em pedacinhos bem pequenininhos e joguei pelo basculante. Continuei minha leitura.