Janeiro&Januário
Gosto de janeiro, mês desinteressante e comprido. Parece ter, na teoria, 45 dias e 5 fins de semana; na prática, parece ter mais. Em Inglês, janeiro traduz-se "january". Não conheço pessoalmente "january" algum, mas conheço um Januário, jogador semiamador de Free Fire, que, coincidentemente, aniversaria em janeiro.
Aliás, metade das pessoas que conheço aniversariam em janeiro, mas poucas têm motivos para comemorar; 99,9999999999% de meus boletos vencem em janeiro, improrrogáveis; janeiro é literalmente o mês dos emojis do foguinho (🔥), um alerta de que o apocalipse vem aí ( e provavelmente em um janeiro), talvez antes mesmo de seu Criador; em janeiro, os ventiladores trabalham sem limite de velocidade e dignidade; mulheres, homens, automóveis andam pelas ruas abanando-se; roupas grudam no corpo com facilidade, umedecidas naturalmente.
Janeiro, naturalmente, é um mês duro, largo e sem feriados, no qual não se esperam grandes feitos. Ótimo mês para pagar contas, divorciar-se, passar tempo olhando para o teto, contando os dias até que algo minimamente interessante aconteça, tipo: chuva de janeiro, a pouco provável e milagrosa, mas estatisticamente possível. Uma chuvinha despretensiosa, tal qual janeiro, mas excelente para nos lembrarmos de um livro esquecido na estante, cujo título poderia ser "Tudo que você precisa saber sobre os 365 dias de janeiro". Seria um livro interessantíssimo e caloroso, composto de 365 capítulos, 245878588562566666 personagens e 245878588562566666 horas.
Em que pese o peso de janeiro, lê-lo nos daria um gostinho de sobrevivência, de fim de mundo, de vitória ante ao colapso climático. De esperança. Capaz, quem sabe, até de antecipar uma chuvinha alegre, doce, afável, embora fictícia, que traria de volta um certo cheiro ancestral de terra molhada, o povo de volta à sociabilidade; as crianças suariam menos; os adultos ingeririam menos cervejas; os carros não superaqueceriam tanto e tão facilmente; e Januário não precisaria emigrar. Não teria essa ideia fascinante e perigosa de fugir do calor.
Como assim, meu amigo Januário, você não gosta de janeiro? Aliás, de janeiro ou do calor? É preciso explicar isso bem. Porque uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Veja meu caso: não gosto de cebola, mas de que serve minha opinião frente à da medicina? De tal modo, não deixo de consumi-la, ainda que a contragosto. Tento conciliar, portanto, o gosto horrível com a opinião otimista dos nutricionistas e chego à conclusão de que talvez cebola não seja tão ruim.
Sugiro que você faça o mesmo, porém por meios próprios, e reconsidere voltar ao calor. Não abandone janeiro assim tão depressa, Januário. Por acaso você não sabe que o frio facilita a propagação de vírus, desidrata a pele mais que o calor, é ótimo para dormir, mas a pior coisa do mundo para acordar, transforma nossas mãos em cubos de gelo? Sem falar que, estatisticamente, frio engorda, e não foi você que me disse que uma de suas 365 metas para 2025 é perder peso abdominal?
Januário, volte. Volte, Januário. Volte. Antes de janeiro acabar, preferencialmente. Porque depois de janeiro, o ano perde 99, 9999% do calor e da graça, e para piorar as cebolas continuam com um gosto 100% horrível.