descrição densa de um encontro
Um, dois, três toques na porta de madeira maciça. Ela abre em um clique, e sem pensarmos duas vezes, nosso abraço vai de encontro. Devido a diferença de altura, minha cabeça acaba por se enterrar no seu peito. Eu sinto imediatamente o cheiro do seu perfume, misturado com o cheiro do amaciante da sua camisa. Os meus braços, muitos mais curtos que os seus, envolvem o seu corpo. E na mesma medida, o seu braço direito envolve meu ombro, enquanto o esquerdo vai mais abaixo, e abraça a minha cintura. Um, dois passos e eu adentro a sala. Ela tem cheiro de algum difusor de ambiente que eu até hoje não identifiquei a fragrância. Sentamos de frente um pro outro e começamos uma infinitude de assuntos. Muitos deles sem conclusão. Eu falo do meu medo de não passar no vestibular. Você fala do trabalho que sua mãe anda te dando devido a terceira idade e da saudade que você sente do seu pai.
A gente vai entrando de devaneio em devaneio, e os nossos tópicos vão se emaranhando formando uma teia intensa de afeto e escuta. A gente se conecta de uma forma que entramos em transe: só tem eu, você, as paredes amarelas e as estantes em marrom claro. Da porta de madeira maciça pra fora, nada mais importa. Toc, toc, toc. Alguém bate na porta. Entra uma moça a sua procura, e em uma fração de segundos, a gente volta pro mundo real. Ela sai e a gente retorna ao nosso mundo particular, onde cabe só eu e você.
A hora passou. Voou. Já são cinco da tarde. Eu saio pela porta de madeira maciça e ando adentro dos corredores cinzas, em direção a saída. Eu tenho um mundo real me esperando lá fora. Me despeço. No meu externo, tenho impregnado o cheiro do seu perfume. No meu interno, tenho impregnada a saudade e a vontade de conversar com você por pelo menos mais umas sete horas seguidas. Tchau, até a próxima, que ainda não sabemos quando será. Porque na mesma medida que a gente se ama, a gente se desencontra (pra depois se encontrar de novo).